DA TRISTEZA DE JANAÚBA: QUEM REALMENTE SE IMPORTA?
Opinião
Senti necessidade de escrever e compartilhar um sentimento sobre o nosso todo.
Não é novidade que o Planeta Terra enfrenta grave crise humanitária por todos os seus continentes, e não seríamos nós, os brasileiros assentados num país continental cronicamente doente e abandonado por todos os ângulos, que ficaríamos livres delas.
O que chama atenção é como acumulamos tragédias anunciadas, as que poderiam ser evitadas com um pouco mais de atenção , não apenas por parte da população civilmente organizada da qual fazemos parte, mas das autoridades competentes em fazer esse país andar...pra frente com o mínimo de respeito e dignidades cidadãs!
Fato notório é que nos perdemos.
A chocante tragédia de Janaúba, e aqui uso um pleonasmo enfático, a que deixou nosso país imensamente triste pelo “modus operandis” tão traumático do seu acontecimento, a meu ver, nos leva a discutir vários pontos da nossa atual fragilidade social, levada a cabo dum tempão por ineficiente compromisso político em cuidar do tudo que se relaciona a bem cuidar das pessoas!
O ocorrido, que deixou vários feridos e que não apenas ceifou vidas tenras de crianças, bem como levou precocemente a vida duma heróica professora e negligentemente a dum cidadão com transtorno mental, coloca em xeque a abordagem da saúde pública, a precariedade das gestões públicas no todo e o sucateamento do atendimento de urgência por todo o Brasil.
Quem conhece o cenário social de perto aprendeu a enxergar que por aqui se faz tudo de qualquer jeito!
Depois das tragédias se tenta remendar os sonetos, há uma mobilização passional geral e depois...tudo cai no esquecimento.
Assim aprendemos a contar nosso mortos ecléticos, vindos de todas as nossas tragédias, com muita resignação social.
As perguntas que faço: Aquele senhor que ateou fogo na creche, qual instituição era responsável pelo seu atendimento médico? Ele tinha condições de trabalho? Era regularmente avaliado? Quem o contratou? No boletim de ocorrência prévio que consta ter sido realizado, alguém se preocupou em avaliar ou mandar avaliar se era o cidadão ou não portador de transtornos mentais sérios?
Quem se importa?
Como trabalham nosso professores pelo Brasil todo?
Existe cobertura de segurança de trabalho para as creches, escolas e demais equipamentos públicos de prestação de serviços contínuos à população?
Quem se importa?
E nosso atendimento de saúde no minimamente básico para uma tragédia? É normal faltar SORO FISIOLÓGICO num HOSPITAL DE REFERÊNCIA REGIONAL para casos mais graves?
Calamitoso!
E sobe a demanda atual assustadoramente crescente em PSIQUIATRIA, especialidade que demanda tempo de observação cuidadosa para diagnósticos corretos, essa demanda abandonada aonde vemos doentes há anos sem atendimento especializado, apenas com remendos em avaliações MULTIDISCIPLINARES SEM PSIQUIATRAS que não mudam os cursos das graves doenças tampouco aliviam os riscos do paciente e do seu entorno social?
Quem se importa?
Os professores? Como trabalham? Quais seus danos emocionais no exercício da profissão? Quais os riscos de violência em trabalho? Qual o respeito verdadeiro das autoridades gestoras do país por quem é a SOLUÇÃO DE TODOS OS NOSSOS PROBLEMAS SOCIAIS QUE SE AVOLUMAM E NOS DIZIMAM EM CASCATA?
Quem se importa?
A HEROÍNA PROFESORA RECEBEU UMA COMENDA DE HONRA, DECERTO EXTENSIVA A TODO O PROFESSORADO DO BRASIL. HERÓIS ANÔNIMOS QUE SALVAM CRIANÇAS TODOS OS DIAS DAS TRAGÉDIAS INVISÍVEIS, INCLUSIVE.
Quem se importa VERDADEIRAMENTE com a dignidade do professorado brasileiro?
Seria preciso uma tragédia para que eles fossem merecidamente homenageados?
Respondo a mim mesma: quem se importa é apenas cada UM DE NÓS, meros cidadãos comuns da nossa sofrida e FURTADA sociedade civil da qual fazemos a nossa dura parte, cada entidade médica que ora cede seus profissionais realmente missionários para o socorro da dor humana, cada cidadão anônimo que, munido de compaixão, doa seu sangue exaurido, anemiado e sugado pelo próprio país, a ceder um pouco do que lhe sobrou da avalanche corruptiva sobre si, a dora-se para o alívio do desespero que tomou conta daquela cidadezinha...e que de forma altamente emblemática simboliza a dor de todo brasileiro consciente do seu atual habitat.
Somos um país em rescaldo social, é o oque sinto.
Quem se importa?
Sou daqueles seres que SE IMPORTA muito e que acredita que nada é por acaso...
Portanto:
Deixo aqui um pouco da minha oração e da minha dor por escrito, ao tudo que aconteceu em Janaúba e a perguntar no meu silêncio dolorido: até quando Brasil?
Quem realmente se importaria em responder?