A Era da Alienação
NOTA: ESTE IMPRESSIONANTE ARTIGO SAÍDO EM 1983 NA IMPRENSA CATÓLICA (ASSINADO POR PESSOA QUE ASSINA IGNATIUS) NADA PERDEU DE SUA ATUALIDADE, EXCETO EM QUE A SITUAÇÃO SE AGRAVOU COM AS NOVAS MÍDIAS.
NÃO GOSTAMOS, por Ignatius
Do jornal “O Lutador” de 27 de março a 2 de abril de 1983 – Belo Horizonte, MG.
Tudo é feito na frente do televisor: refeições, estudos (exercícios de casa), trabalhos domésticos, entendimentos, repouso etc. E não apenas pelas crianças. Adultos dão o exemplo. Não é incomum verem-se a vovó e seu crochê, o vovô e seu jornal, a mamãe descascando batatas, a filha mais velha fazendo unhas, a outra o dever de casa, o filho caçula jogando futebol de botão. Sala grande, a de Televisão — ambiente novo do “lar que se preze”. E quando o papai chega, tem de aderir... Antes das novelas — que começam ao entardecer e vão-se prolongando — não há ambiente para mais nada. Os comentários, geralmente em torno dos próprios quadros da TV, só nos intervalos comerciais. E raramente críticos do que se assiste, pois já são muitas as doses de anestesia aplicadas a todo o “álbum” (porque pessoas imóveis) de família. Está pintado o quadro. Ah, ia-me esquecendo! Falta a “Lady”, a pequinês: está condicionada ao cantinho do sofá. Não é preciso ser “expert” da psicologia da propaganda para saber que o negócio é dirigir a imagem e a palavra à dona-de-casa e suas crianças, em conhecidos horários do dia; a novela, da tardinha á noite; e o “pornô” de noitão — para os rapagões e até o papai.
Fora isso, noutros lugares supérfluos da casa, faz-se alguma coisa. Não sejamos totalmente injustos. Sempre sobra um tempinho para tomar baho e, chega um momento, que o sono aperta... A família “videota” é, hoje, uma realidade nacional. Responsável pelos rumos atuais da nacionalidade? SIM. Pois se, via de regra, não se mexe nem para cuidar das coisas da casa com a atenção devida, como se importarão com as coisas da sociedade anônima? Não passam de espetáculos assistíveis, com maior ou menor emoção, ali no vídeo. Pelo menos enquanto “nós não somos os atingidos, diretamente, por grandes males”. Os corriqueiros, como aumento das passagens de ônibus, a gente se limita a resmungar ou dizer um palavrão: “São uns ladrões e etc.”
Já que este álbum é um fato indiscutível, pensemos nos que, irrequietos por natureza — graças a Deus! — ainda pulam lá fora: os futuros homens. Que deixam de ser peça de álbum para, mais adiante, não ser uma de museu. Diz o psiquiatra Hain Gruspum: “A criança atual está anestesiada frente a violência, que causa sua alienação e provoca esquizofrenia, tendo na televisão seu maior instrutor. A televisão, essa é a verdade, não enriquece a criança e sim diminui sua capacidade motora, criativa e seu desenvolvimento mental, provocando-lhe profundas neuroses.”
Não é só esta a causa, há muito tipo de violência ativa e passiva (indireta) condicinando o mau comportamento das crianças. Mas que o fato a ser contado abaixo tem a ver com a TV, isso tem. Título: “Menino mata menino com tiro depois de esbarrão” (Jornal do Brasil, 2/3/83, pag. 16). “Crime bárbaro e estúpido” — diz o noticiário. “Eu quero dar um tiro no ouvido. Meu Deus, por que meu filho é de forma tão violenta?” — chorava a mãe. “Não havia necessidade. A discussão foi por nada. Só por causa de um esbarrão” — disseram os policiais da 18ª DP, na Praça da bandeira, no Rio. Quer dizer: tudo violência, condicionamento psicológico para a violência, soluções de violência (em que até pensou a mãe, desesperada!) — Trata-se de clima criado para a violência. Por quem? Ou melhor: por quantos e com quais instrumentos. A arma apenas detonou... o dispositivo de violência armado, inconscientemente, dentro da criança. ISTO É ÓBVIO!
VIOLÊNCIA, NÃO — FRATERNIDADE, SIM
“Os menores da chamada “classe média” vão sendo absorvidos pelo delírio consumista, o que os degenera. Nestes (em termos psicanalíticos) estabelece-se constante desequilíbrio etre o desejo e o poder. O sistema os obriga a desejar intensamente, mas eles não poderão satisfazer a glutonaria do consumo. Não é preciso mais para sua infelicidade.” (Regis de Morais, “O que é violência urbana”, Editora Brasiliense, 1ª edição, página 76).
imagem pixabay
NOTA: ESTE IMPRESSIONANTE ARTIGO SAÍDO EM 1983 NA IMPRENSA CATÓLICA (ASSINADO POR PESSOA QUE ASSINA IGNATIUS) NADA PERDEU DE SUA ATUALIDADE, EXCETO EM QUE A SITUAÇÃO SE AGRAVOU COM AS NOVAS MÍDIAS.
NÃO GOSTAMOS, por Ignatius
Do jornal “O Lutador” de 27 de março a 2 de abril de 1983 – Belo Horizonte, MG.
Tudo é feito na frente do televisor: refeições, estudos (exercícios de casa), trabalhos domésticos, entendimentos, repouso etc. E não apenas pelas crianças. Adultos dão o exemplo. Não é incomum verem-se a vovó e seu crochê, o vovô e seu jornal, a mamãe descascando batatas, a filha mais velha fazendo unhas, a outra o dever de casa, o filho caçula jogando futebol de botão. Sala grande, a de Televisão — ambiente novo do “lar que se preze”. E quando o papai chega, tem de aderir... Antes das novelas — que começam ao entardecer e vão-se prolongando — não há ambiente para mais nada. Os comentários, geralmente em torno dos próprios quadros da TV, só nos intervalos comerciais. E raramente críticos do que se assiste, pois já são muitas as doses de anestesia aplicadas a todo o “álbum” (porque pessoas imóveis) de família. Está pintado o quadro. Ah, ia-me esquecendo! Falta a “Lady”, a pequinês: está condicionada ao cantinho do sofá. Não é preciso ser “expert” da psicologia da propaganda para saber que o negócio é dirigir a imagem e a palavra à dona-de-casa e suas crianças, em conhecidos horários do dia; a novela, da tardinha á noite; e o “pornô” de noitão — para os rapagões e até o papai.
Fora isso, noutros lugares supérfluos da casa, faz-se alguma coisa. Não sejamos totalmente injustos. Sempre sobra um tempinho para tomar baho e, chega um momento, que o sono aperta... A família “videota” é, hoje, uma realidade nacional. Responsável pelos rumos atuais da nacionalidade? SIM. Pois se, via de regra, não se mexe nem para cuidar das coisas da casa com a atenção devida, como se importarão com as coisas da sociedade anônima? Não passam de espetáculos assistíveis, com maior ou menor emoção, ali no vídeo. Pelo menos enquanto “nós não somos os atingidos, diretamente, por grandes males”. Os corriqueiros, como aumento das passagens de ônibus, a gente se limita a resmungar ou dizer um palavrão: “São uns ladrões e etc.”
Já que este álbum é um fato indiscutível, pensemos nos que, irrequietos por natureza — graças a Deus! — ainda pulam lá fora: os futuros homens. Que deixam de ser peça de álbum para, mais adiante, não ser uma de museu. Diz o psiquiatra Hain Gruspum: “A criança atual está anestesiada frente a violência, que causa sua alienação e provoca esquizofrenia, tendo na televisão seu maior instrutor. A televisão, essa é a verdade, não enriquece a criança e sim diminui sua capacidade motora, criativa e seu desenvolvimento mental, provocando-lhe profundas neuroses.”
Não é só esta a causa, há muito tipo de violência ativa e passiva (indireta) condicinando o mau comportamento das crianças. Mas que o fato a ser contado abaixo tem a ver com a TV, isso tem. Título: “Menino mata menino com tiro depois de esbarrão” (Jornal do Brasil, 2/3/83, pag. 16). “Crime bárbaro e estúpido” — diz o noticiário. “Eu quero dar um tiro no ouvido. Meu Deus, por que meu filho é de forma tão violenta?” — chorava a mãe. “Não havia necessidade. A discussão foi por nada. Só por causa de um esbarrão” — disseram os policiais da 18ª DP, na Praça da bandeira, no Rio. Quer dizer: tudo violência, condicionamento psicológico para a violência, soluções de violência (em que até pensou a mãe, desesperada!) — Trata-se de clima criado para a violência. Por quem? Ou melhor: por quantos e com quais instrumentos. A arma apenas detonou... o dispositivo de violência armado, inconscientemente, dentro da criança. ISTO É ÓBVIO!
VIOLÊNCIA, NÃO — FRATERNIDADE, SIM
“Os menores da chamada “classe média” vão sendo absorvidos pelo delírio consumista, o que os degenera. Nestes (em termos psicanalíticos) estabelece-se constante desequilíbrio etre o desejo e o poder. O sistema os obriga a desejar intensamente, mas eles não poderão satisfazer a glutonaria do consumo. Não é preciso mais para sua infelicidade.” (Regis de Morais, “O que é violência urbana”, Editora Brasiliense, 1ª edição, página 76).
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