Famílias e Estrelas
Quando eu era um pequeno positivista, enxergava que as células da sociedade eram as famílias, e estas portanto, deveriam ser ouvidas e protegidas. Com o tempo, passei a acreditar que o conceito de família seria dissolvido -- seja o conceito que você colocar para si mesmo, com pai e mãe, mãe e mãe, pai e pai, filho sendo pai, mãe namorando com filho, etc.. E de fato, a família enquanto tal, no mundo ocidental, acabou.
Então, passei a olhar de uma forma diferente para outras células que formam a sociedade: não grupos étnicos, grupos que defendem as mesmas ideias, ou mesmo grupos acéfalos que seguem líderes como rebanhos. Desconsiderei grupos menores (famílias) e também grupos maiores (seja políticos, culturais, étnicos ou religiosos) e passei a procurar por onde realmente passam os grandes feitos humanos.
Como positivista de fato, não religioso, mas daqueles que adora história e ostenta a bandeira de louvar os grandes nomes da humanidade, pensei comigo mesmo: que tal se olhar feitos dos indivíduos? Rapidamente apercebi que feitos humanos muitas vezes passam no começo, em pequena, em grande, ou fim de escala, pelos indivíduos. De fato, um positivista individualista, mas nada de mais natural: porque são as pessoas, únicas, estelares e super-novas, que são as catalisadoras, fio-condutoras, e muitas vezes as lâmpadas que iluminam o mundo. Desde Tesla a Eistein, de Dummont a Churchill, de eu a você.
Não vou discutir largamente os conceitos de família defendidos e contra-atacados por Feubearch ou outros autores de esquerda, mesmo porque, como disse, a família ao meu ver não é (talvez nunca tenha sido) a célula da humanidade: porque historicamente, contrariando tais filósofos, ela jamais foi uma imposição vindo de alguém mais alto. A família é simples fruto da necessidade humana de se ajuntar, viver e procriar. Seja os múltiplos conceitos de família que você tenha, na frieza da necessidade, no amor dos laços consanguíneos e espirituais, família nada mais é do que isso: pessoas que estão juntas por laços particulares (delas mesmas).
Mas tais laços não são representativos de fios de progresso: eles apenas existem, por necessidade e amor. E quando nenhum desses fios existe, ocorre o que está havendo hoje -- famílias passam a simplesmente inexistir, restando-lhes outros laços às pessoas. Laços de amizade, cuidado, reciprocidade de ideias e claro, necessidade. Nesse contexto, talvez como nascedouro da sociedade: porque como vimos, família nasceu por obra da necessidade material e espiritual humanas, e quando tais necessidades não se fazem mais presentes, o que resta das sociedades são estes fio-condutores que sempre existiram: as células de cada sociedade, seus indíviduos.
Hoje percebo e apercebo, que por mais que haja calor e afeto dentro dos lares, ocas, comunidades hippies, igrejas e partidos políticos, o que de fato reverbera lá dentro -- além dos laços de necessidade (espiritual e/ou consaguinea, reciprocidade e amor) são as luzes que lá dentro brilham, como pequenas estrelas piscando no firmamento: as pessoas. E dito isto, é preciso defender, que cada pequena estrelinha brilhe seu brilho, aquele que ela assim o desejar, não importando os laços e locais que habita. Não é o Estado quem deve definir sua intensidade -- muito menos seu dirigente político, seu sacerdote amigo, sua companheira de cama, sua amiga de berço. Mas a única que pode dar tal definição é a própria estrela (quando já adulta... e quando criança, não é direito do Estado definir seu destino, diga-se).
E se você, caso queira defender ou destruir as famílias, eu lhes digo duas coisas: boa sorte, e que respeito vossas opiniões divergentes. Mas mesmo os participantes delas, não se importam com o que você pensa. Ainda assim, lhe digo, brilhe meu amigo. Não se deixe abater com minha opinião: porque neste texto eu apenas contra-argumentei a ideologia da família vinda de cima, afirmando que ela veio pelos laços humanos. Mas em nenhum momento argumentei o porquê acredito, que ela inexiste hoje. Posso estar enganado.
Boa sorte.