Em defesa do Queermuseu
É um movimento padrão das instituições normatizadoras. Com a loucura foi a mesma coisa. Aquelas mentes indisciplináveis por sua natureza, fora do alcance das tecnologias sociais, precisavam ser catalogadas e depois isoladas do convívio normal.
Era preciso que as pessoas vissem no louco a anormalidade, precisavam aprender que aquela loucura era perigosa e deveria ser evitada. O louco colocado para fora do universo social mais amplo, exilado do simbólico e das interações, seu papel no mundo fora rejeitado. Fora trancafiado nos hospícios, mini campos de concentração, para serem isolados, torturados e mortos.
O exílio do louco ocorre depois de ser riscado da mente dos "normais" - disciplináveis e sujeitos a socialização das escolas, leis e prisões. É encerrado nestes normais a aceitação e inclusão do louco como parte do mundo concreto e simbólico que constitui as trocas em sociedade.
A arte é uma expressão muito espontânea e similar da forma como pensamos e sentimos esta realidade. Por isto pode ser tanto amada quanto odiada, admirável e repugnante, pois assim são os pensamentos.
A arte tira do gueto, a arte é um instrumento sofisticado dos petulantes e atrevidos. Por que desloca seus pensamentos, antes confinados em lugares e corpos estigmatizados e marginalizados, para os lugares da arte convencional. Os olhares acostumados a se verem reproduzidos seus horizontes simbólicos encontram com os outros olhares escondidos.
Há algo neste encontro que se assemelha a um terror e a uma pergunta "onde estava que eu não te conhecia?".
Não sem motivos os burgueses mais medrosos e inseguros temem esta arte. Este mundo concreto da normalidade e da punição é o abrigo seguro daqueles que não souberam lidar internamente com seus monstros e com seus medos.
Precisam da ordem, das leis e do Estado e de tudo que pode ser exemplo de rigidez, punição, violência e frieza para conter o lixo dentro de si domesticado - aparentemente domesticado. Pois a violência contra a mulher, a homofobia e o fundamentalismo político são sinais de que algo não está muito bem em suas mentes.
O repúdio contra a mudança, contra a inclusão, contra a igualdade é um pedido ao Estado, aos militares e a Deus para que mantenha a disciplina, a punição e a uniformidade contra os próprios pensamentos mal resolvidos.
>>Os "Fasci Italiani di Combattimento" atacam novamente
Em um texto meu de 2016, chamado "MBL e os 'Fasci Italiani di Combattimento" eu já percebia este tipo de tática fascista de tratar a quem se opõe a eles como criminosos e taxar de comunista qualquer um que não compartilha suas verdades.
Infelizmente a palhaçada que eles aprontaram dias atrás contra a exposição do Queermuseu sobre diversidade sexual. Foi digna destes tempos hitlerianos, com provocações e enfrentamentos contra os que visitavam a exposição.
Da mesma forma como fizeram nas escolas constrangendo os alunos manifestantes a encerrarem a greve, fizeram agora constrangendo e provocando os visitantes da exposição.
Conseguiram ver em obras que criticam preconceitos e estereótipos pedofilia e prostituição infantil. Isto seria o mesmo que dizer que uma reportagem do Profissão Repórter sobre prostituição fosse uma defesa e incentivo da mesma.