Aplicativos como o Uber são o exemplo maior do novo capitalismo que deseja consolidar a concentração de renda como um fato inevitável. Anunciam-se como empresas de tecnologia que fazem a ponte entre o prestador de serviço e o consumidor, não oferecem nenhuma ferramenta de produção, apenas exploram a produtividade e o trabalhador que produz. São feitores pós-modernos. Livram-se, assim, de qualquer risco de prejuízo e do ônus das relações de trabalho. O novo capitalismo vem se constituindo muito mais como um sistema parasitário do que produtivo. Confirmando esse aspecto, a insurreição dos taxistas representa a mais significativa e organizada luta de classes deste novo século. Lutam contra a desapropriação do lucro de sua mão de obra em benefício da acumulação do capital por corporações estrangeiras.
 
É inacreditável que nenhum partido político de teses socialistas no Brasil tenha compreendido e se solidarizado com os motoristas de táxi, trabalhadores autônomos que viraram o alvo preferido do grande capital. Essas empresas, na maioria estrangeiras, em nada investem no país, algumas vezes sonegam tributos. No entanto, de olho numa parcela do lucro que pode ser convertido em recolhimento de impostos, o Estado compactua com o extermínio de uma categoria profissional. Despreza-se que o táxi esteja contemplado na Lei de Mobilidade Urbana, despreza-se que taxista é uma profissão regulamentada, despreza-se a sustentabilidade, a qualidade de vida, a ameaça de um monopólio e a legislação municipal. Alegam que os aplicativos são uma vontade popular. Não, são resultado de marketing associado às grandes mídias que promovem interesses nebulosos. Tudo isso nos revela a falsidade ideológica de muitos movimentos e mentes de esquerda, frágeis e inconsistentes pelas suas contradições. Um bando de Maria vai com as outras.
 
No Rio de Janeiro, a imensa manifestação do dia 27 de julho de 2017 demonstrou que o grupo de trabalhadores mais engajados contra uma nova ordem que surge sorrateira é, justamente, o conjunto dos taxistas. Não estão unidos por qualquer corrente ideológica, mas pela consciência de que enfrentam um predador capitalista que quer engoli-los e usurpar o resultado do seu esforço individual e diário. A falta de liderança e coordenação nacional ainda não permitiu atingir o potencial mais forte das ideias. Porém, regionalmente, algumas células estão se tornando poderosos instrumentos de pressão. Carentes de sindicatos representativos, os taxistas constroem a união por Redes Sociais, WhatsApp, reuniões, assembleias independentes, oferecendo lições de resistência e mobilização em meio à apatia nacional que vem permitindo a destituição de direitos e benefícios sociais.

 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 30/07/2017
Reeditado em 30/07/2017
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