OS VERDADEIROS SÁBIOS

Depois de o carpinteiro ter cumprido a missão de consertar as goteiras do telhado, convidei-o para tomar um cafezinho comigo. Logo no início da conversa ele perguntou-me qual era a minha formação acadêmica e foi logo revelando que o seu grande sonho era fazer a graduação em filosofia. "Não será com o objetivo de ganhar dinheiro, mas é por uma necessidade de realização puramente pessoal", logo explicou.

Em pouco tempo ele fez menções e argumentações fundamentadas em vários pensadores antigos como Sócrates, Platão, Pitágoras, Nietzsche, Rousseau, Kant, Sartre, Aristóteles, até os mais contemporâneos e brasileiros vivos como Augusto Cury, Leandro Karnal, Clóvis de Barros Filho, Felipe Pondé e Mário Sérgio Cortella.

Deu gosto de ver aquele jovem carpinteiro falando da sua percepção sobre o mundo atual, a estratificação social e o que ele classificou como "apartheid social". "Precisamos ver as pessoas simplesmente como seres humanos, independente de gênero, cor, religião ou qualquer característica que crie estereótipos, pois só assim teremos condições de entendê-las e respeitá-las de forma igualitária", explicou.

Em dado momento ele argumentou: “Estou desempregado, mas estou feliz. Não preciso de muita coisa pra ser feliz. Tenho saúde e faço pequenos trabalhos para manter a família, moro numa região onde ainda posso respirar, mergulhar nos igarapés de águas cristalinas e contemplar a beleza da floresta. Não entendo porque queremos tanto o progresso se ele poderá tirar da gente aquilo que é mais importante para a nossa qualidade de vida. Não tenho celular nem conta em redes sociais, gosto de ler livros de papel e conversar com as pessoas olhando nos olhos”, arguiu.

Sorte a minha é que não dou a mínima para as aparências! Caso contrário, teria perdido a oportunidade de aprender tantas coisas interessantes e conhecer mais sobre aquele verdadeiro sábio. Quantas vezes convidamos às pessoas para nossas casas e para as nossas vidas simplesmente pelas suas aparências, status, poder econômico e influência social, sem nos preocuparmos com o que de fato iremos aprender com elas? Às vezes são pessoas egocêntricas, desprovidas de conhecimento, vazias de sabedoria e valores éticos e morais.

Fico a pensar: Quantas pessoas se vangloriam dos seus títulos acadêmicos e não detém nem 1% do conhecimento daquele simples carpinteiro? E mesmo assim, são soberbas, arrogantes, olham para as pessoas de cima para baixo como se elas fossem estrelas de infinita grandeza?!

Não é a primeira vez que me deparo com situação desse tipo. Outra vez conheci um agricultor do interior de Almeirim/PA que sabia mais sobre as teorias marxistas do que muitos dos meus professores universitários. Infelizmente, não demorei a receber a triste notícia de que ele foi vencido por uma malária, pois morava sozinho em meio as suas plantações mata adentro e foi encontrado já em avançado estado de decomposição. Sua vida se foi, como irão todas as nossas, mas o exemplo daquele lavrador fica registrado aqui para a sua posteridade.

Como diria Saint Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”.

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*Professor, Licenciado em Pedagogia e Letras, pós-graduado em Gestão e Docência do Ensino Superior e formando em Jornalismo.