ONDE A VIDA VALE MENOS... (II) FINAL
Se o Brasil fosse, de fato, o país onde a vida vale menos, certamente, era nas bordas periféricas das grandes cidades brasileiras em que se encontraria o ápice da desvalorização da vida, mas como disse no primeiro artigo da série: a verdade é que a história não é bem assim. Mas também, não deixa de ter essa natureza, ora, são também nas regiões periféricas das metrópoles que se acaloram as fornalhas para a produção do visgo da desvalorização da vida.
Creio na denotação de que realmente para certas indagações há sempre lacunas a serem preenchidas e que por mais que tentemos atestá-las não há respostas superficiais. Ora, se nas primícias do artigo anterior perguntávamos onde a vida vale menos e antes do seu encerramento a questão exigiu outros questionamentos do tipo: Quanto vale uma vida para você? É na sociedade que a vida vale menos?! Quanto vale uma vida na sociedade? Qual vida? Qual sociedade?... talvez, a chave para o acesso a esse baú de mistérios seja a resposta para a pergunta: A vida de quem? Mas fazendo isso, outra sequência de interrogações surgiria a seguir: Do político corrupto? Do empresário honesto? Do vagabundo? Do artista famoso? Do jovem favelado? A de qualquer um?
Bom seria se depois de tudo, ficasse muito fácil responder tais indagações, ao ponto de a resposta se assemelhar a algo mágico: Ora, mesmo não sabendo ainda onde a vida vale menos parece-nos que o valor da vida, então, é dado a depender do valor social de cada ser humano! Sim, se descartado o fato de que alguns são dados sem valor algum para a sociedade que, muitas vezes, os tratam como lixo, fatos não podem ser descartados, pelo menos aqui. Porém, ficou mais aclarado: A vida (do outro) vale menos para as mentes doentias que olham das natas sociais e enxerga o próximo nos subúrbios como ratos de esgotos putrefatos e fétidos; a vida (do outro) vale menos para o corrompido que, independentemente da forma de corrupção, busca se sobressair, sem se importar com a forma e com o outro. A vida (do outro) vale menos para as mentes egoístas, então.
A verdade é que, não importando o lugar, não devíamos atribuir valores taxativos à vida, mas podemos apresentar uma prévia de como um olha e ver o outro: Ora, assaltantes, ladrões, assassinos enxergam na vida do outro a garantia de sobrevivência para si, e, por isso, mata. Agora, em relação à própria vida, não tem preço.
Excetuando os suicidas, tudo é dado para mantermo-nos vivos. Ironia: Na tentativa de valorizar a vida, dar-¬se a própria vida. Já para quem aborta a vida vale menos que nada e até paga para que mate o filho ainda no ventre.
Verdade absoluta mesmo é que a vida humana está sendo desvalorizada cada vez mais: Ora, se por um lado milhares de pessoas estão vivendo em situações muito piores que animais abandonados, expostos às mais diversas formas de doenças, sofrendo humilhações, passando fome e sendo desesperançadas, entregues as piores drogas alucinógenas na tentativa de abafar a dor de sua alma, por outro lado, outros milhares de seres bem-sucedidos financeiramente e socialmente bem resolvidos quando passam próximos a estes, desviam o olhar, como forma de ignorá-los.