Desalento

Delineia-se nos dias de hoje um cenário redutor da importância das pessoas ou mesmo da sua razão de ser, numa visão mais radical. O que de certo modo não se restringe apenas ao nosso Brasil, senão também ao exterior. De onde são frequentes os informes de episódios terroristas, sempre com um número expressivo de óbitos, atentados isolados e reuniões com pouco resultado prático como essa do G-7, realizada em Taormina, na Itália. A não ser a arrogância de chefes de estado que se intitulam defensores da democracia e de povos fracos e oprimidos, jogando bombas no quintal dos outros e achando que ninguém tem o direito de fazer o mesmo no quintal deles.

Desalentadoras, no caso brasileiro, considerando-se o Rio, por exemplo, essas notícias diárias de violência gratuita, crimes de morte, arrastões, assassinatos de policiais, mortes de civis por balas perdidas, escolas fechadas para milhares de crianças em função de tiroteios entre policiais e bandidos – enfim, insegurança generalizada. Ao lado disso, a total insatisfação da sociedade com o universo político brasileiro onde seus integrantes, aliados a empresários não menos inescrupulosos, dedicam-se ao saque abusivo e criminoso do dinheiro público, numa busca insaciável pelo enriquecimento e depois empoderamento pessoal.

A população desassistida e mais próxima da linha de pobreza está sendo empurrada contra a parede e pode não demorar a explodir trazendo para as ruas, fantasias à parte, algo parecido com as cenas de filmes tipo Mad Max, de qualidade discutível e ostensiva presença colonizadora de que temos dificuldade de fugir. Cenas em que se veem carros abandonados, prédios em escombros, gangs ameaçadoras pelas ruas e a flagelação do meio urbano, decorrentes de um “povo que briga violentamente por água e gasolina”. E, claro, por comida.

Já têm esse aspecto certas comunidades carentes do Rio onde a polícia praticamente não tem acesso, nas quais os bandidos se refugiam depois dos crimes. E a cracolândia, em São Paulo, não poderia ser um fragmento disso?

Antes considerados locais de relativa segurança, os shoppings agora começam a ser assaltados, caminhões de carga são roubados com relativa facilidade em vias expressas, bandidos com fuzis são vistos em ruas de maior circulação, etc. O trezoitão saiu de moda.

A despeito de uma normalidade que as autoridades procuram transmitir à sociedade, com a eventual ajuda da mídia, observa-se uma insegurança que não se restringe apenas ao nível pessoal do cidadão comum, mas que se evidencia também em relação ao que esse cidadão espera do futuro do país. Pela mínima confiança no comportamento dos políticos que o deveriam representar.

Confiança que se reduz também a setores superiores da sociedade como o Judiciário. A questão do foro privilegiado, possivelmente de grande importância na depuração moral do político brasileiro, não poderia ser objeto de escrutínio popular? No entanto, é decidida em plenários fechados, como os do STF, cujos membros se pronunciam como se fossem dotados de uma sabedoria somente comparável à divina.

Claro que não nos devemos abastecer de uma dose maciça de pessimismo. Somos um país ainda rico e sempre poderemos despertar para a realidade de nosso potencial e grandeza. Embora isso venha demorando a acontecer. Mas não podemos fingir que não estamos vendo coisas que nos desalentam. E assustam.

Rio, 01/06/2017

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 01/06/2017
Reeditado em 01/06/2017
Código do texto: T6015311
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