Cotas Raciais nas Universidades
A Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em uma reunião do Conselho Universitário, aprovou ontem, 30/05/17, uma política de cotas raciais aos estudantes pretos, pardos e indígenas. Esta ação faz parte de uma conquista importante do movimento negro e do movimento estudantil da universidade que vem seguindo uma crescente de avanços no sentido de democratizar o acesso, já que 50% de suas vagas são destinadas aos alunos oriundos de escolas públicas. Ampliar o acesso aos estudantes pretos, pardos e indígenas é algo que merece destaque, sobretudo, no atual cenário, nada amistoso àqueles que em sua maioria sempre estiveram à margem da sociedade.
A reunião do Conselho Universitário da UNICAMP que resultou na aprovação das cotas foi tensa e duradoura, nada diferente do esperado, já que ainda é polêmico falar sobre este assunto no Brasil. É comum ouvirmos: "Sou a favor da cota social, mas da cota racial não. Tem muita gente pobre e branca que não entra na universidade pública". Obviamente que há brancos fora da universidade, a questão é que nosso país tem uma dívida de quase 400 anos de escravidão e ainda está muito longe de pagá-la. Quando foram "libertos" em 1888, nenhuma política de reparação pelos longos anos de escravidão foi devidamente concretizada. Foram deixados ao relento, sem instrução, sem habitação, sem trabalho. O Brasil é racista e os dados não mentem: a violência doméstica atinge mais as mulheres negras que as brancas, o percentual de jovens pretos e pobres assassinados é altíssimo. Apesar da população negra ser a maioria e compor 51% do total de brasileiros, há pouca representatividade de negros no cenário político. Apesar de ser maioria, o conceito de beleza ainda se pauta no modelo eurocentrico, uma grande contradição, já que o povo brasileiro é o povo da mistura, há mais sangue africano e indígena na veia do brasileiro que em qualquer outro país. Negar a origem é muitas vezes fruto do desconhecimento da própria história. Em relação as cotas raciais na UNICAMP é importante destacar que a conquista não surge de forma gratuita. Estas vitórias tem história de muita reivindicação. O movimento negro vem intensificando a pressão sobre as universidades públicas desde 2012, quando o Supremo Tribunal Federal considerou constitucional as cotas raciais, consolidando uma Frente pró-cotas. Essa Frente tem atuado incansavelmente junto aos Conselhos Universitários, junto ao governo do Estado e à Assembleia Legislativa. A política afirmativa das cotas tem se constituído como um importante instrumento para a ampliação da representatividade dos negros que ainda é baixa. É importante lembrar que garantir a cota nas universidade para o ingresso de estudantes de escolas públicas ou estudantes pretos, pardos ou indígenas não afeta a qualidade do ensino. Geralmente os estudantes cotistas apresentam rendimento igual ou superior aos estudantes que ingressam de forma tradicional. Em relação a UNICAMP, o plano aprovado deve prever a meta de 50% de estudantes oriundos da rede pública, por curso e turno e buscar a meta de 37,5 % de auto-declarados pretos, pardos e indígenas. Segundo o reitor desta universidade, Marcelo Knoebel, a sociedade deve estar representada em uma universidade pública, de modo que só tende a ganhar e crescer com essa diversidade. O reitor também destaca que o mecanismo de acesso não será a única mudança, a Universidade contará com um programa de permanência estudantil e acompanhamento para o desenvolvimento dos alunos, ação que já ocorre com os cotistas de escolas públicas da Universidade Federal do ABC e Universidade de Brasília. Aos que criticam as cotas raciais é sabido que não é o ideal para o ingresso de estudantes nas universidades públicas. O ideal seria que todos, sem exceção, tivessem acesso a uma educação de qualidade e encontrasse vaga no ensino superior gratuito sem dificuldades. Como essa realidade ainda está muito longe de se concretizar é necessário fazer valer a política de cotas para garantir o minimo de justiça àqueles que tem histórico de exclusão há séculos neste país.