O MST e a Reforma Agrária
O interesse por escrever sobre a Reforma Agrária surgiu ao participar da II Feira da Reforma Agrária, que ocorreu do dia 04 ao dia 07 de maio no Parque da Agua Branca em São Paulo. O principal organizador do evento foi o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, sendo assim, não foram poucas as bandeiras vermelhas, espalhadas por todos os lados. Algo que chamou bastante a atenção no evento foi o comentário de uma senhora na saída do Parque quando bradou em alto e bom som: "mas que coisa, pensei que essa feira fosse de alimentos saudáveis e quando chego aqui, está cheio de bandeira vermelha, vejo que não passa de uma feira política!" Pensei em explicar para a senhora o contexto do evento, porém, me dei conta que qualquer tentativa de reflexão naquele momento seria em vão, dado seu estado de incômodo. Não é novidade que de uma certa forma, o povo brasileiro sempre teve uma certa repulsa à política, talvez por não compreender a dimensão de seu significado. O problema é que no atual momento, nem mesmo os governantes assumem que são políticos, mesmo fazendo política o tempo todo. Negam a política e afirmam serem gestores apenas. O que estaria por trás da afirmação de um político que afirma não ser político? Primeiro uma grande demonstração de falta de conhecimento sobre o próprio termo. Política nada mais é do que a habilidade de tratar das relações humanas com o objetivo de obter os resultados desejados. É a forma como os seres humanos se organizam. Segundo Aristóteles, a política é a ciência que tem como objetivo a felicidade humana que ocorre por meio da ética e da política. É tudo o que se relaciona à busca de ações para o bem estar tanto individual, como coletivo, portanto, todos nós somos políticos em algum momento de nossas vidas, em maior ou menor grau. Ainda assim, mesmo praticando pouco a política, somos totalmente afetados por ela. Voltando ao tema do comentário, indagamos: O que a palavra política tem a ver com a reforma agrária? O Brasil é um dos países com maior concentração de terras do mundo. Em nosso território, estão os maiores latifúndios. Concentração e improdutividade possuem raízes históricas, que remontam ao início da ocupação portuguesa desde o século 16, tudo isso combinado com a monocultura. A forma de ocupação de nossas terras pelos portugueses estabeleceu as raízes da desigualdade social que atinge o Brasil até os dias de hoje. É notório que a decisão política de oprimir as populações mais fragilizadas sempre foi recorrente no Brasil. O MST desde 1997 tem se firmado como um movimento de ativismo político e social com o objetivo de promover a redistribuição das terras improdutivas. Está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. São cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais. Em seus assentamentos há escolas que ensinam as crianças a respeitarem a terra. Além da luta pela reforma agrária, a defesa do movimento é banir totalmente o uso dos agrotóxicos. A plantação é toda baseada na filosofia da agroecologia, que não danifica o solo nem a saúde das pessoas. Sendo estes os objetivos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra porque suas bandeiras vermelhas causam incômodo a tantos brasileiros? Por outro lado, porque empresas que ganham rios de dinheiro com a venda de alimentos transgênicos nada sofrem de crítica? Porque quando falamos sobre a importância do MST as pessoas perguntam: "Mas você não acha que estão ali apenas para ganharem a terra? Para se aproveitarem da situação? Importante sabermos que ser um Sem Terra não é nada fácil. Não o são por pura e simples opção, a situação os convocam à luta. Primeiro ficam acampados muitas vezes anos a fio, sob condições precárias, reivindicando o direito de plantar. Quanto à bandeira vermelha há um histórico a considerar. Durante o período da Comuna de Paris, as bandeiras francesas da cidade foram retiradas e em seus lugares foram hasteadas bandeiras vermelhas. O vermelho da bandeira é uma cor associada ao desafio e também, ao símbolo de sangue vertido na luta. A bandeira do MST é pelo plantio em terras improdutivas para produzir alimentos saudáveis. E sabemos o quanto de sangue derramado carrega a sua história. Morrem também os povos indígenas que perdem o direito de viver na terra para dar lugar aos grandes coronéis que nunca foram seus donos. Sobre o questionamento das pessoas, quanto aos eventuais oportunistas, obviamente que existem pessoas no movimento que não entendem ou não querem seguir a ideologia ali presente. Vale lembrar que o movimento é formado por pessoas e pessoas erram, praticam desonestidades. Em todo lugar. A questão é que há uma grande inversão de valores quando se fala em movimentos sociais em nosso país. A mídia os difamam, sejam os movimentos pela defesa da reforma agrária, pela defesa da moradia, ou qualquer outra defesa que tem como pauta a justiça social. A mídia sempre esteve a serviço dos grandes empresários, que apesar de toda a barbárie, seguem intocáveis. Vale lembrar que é impossível pensar em justiça social em nosso país sem reforma agrária. Outro problema grave é a grande possibilidade da população aumentar a incidência de câncer pela ingestão de alimentos transgênicos. O MST é muito mais digno de apoio que da aversão da sociedade. O que falta à população é desconfiar da mídia e refletir sobre quais interesses estão por trás de tanta crítica aos movimentos sociais como no caso do MST. Alías todos os que lutam por seus direitos são duramente criticados. Que possamos apoiar quem precisa de apoio e criticar quem precisa de crítica. Lutar pela terra e por alimentos saudáveis deve ser a bandeira de todos nós!