TEMPOS DE INVEJA E RESSENTIMENTO

TEMPOS DE INVEJA E RESSENTIMENTO

Miguel Lucena

A briga entre “coxinhas/nutelas” e “mortadelas” revela a superficialidade dos conceitos atuais sobre a importância das manifestações e da conduta do ser humano.

Tudo se resume a ser mais ou menos sofisticado. O conteúdo fica em segundo plano.

Tem gente que reclama das dificuldades e dos infortúnios da vida atual, sem levar em conta que uma pessoa remediada de hoje se alimenta melhor do que um rei na Idade Média.

Não faz muito tempo, até os meus 8 anos, refrigerante só entrava em casa em dia de festa. Da mesma forma, as bolachas Maria e Cream Cracker, compradas atualmente aos montes e dispostas nas despensas, eram reservadas para a criança que estivesse doente e servidas com chá.

Nessa época, bacalhau e charque eram considerados comida de pobre. Lembro-me que minha mãe os trazia escondidos, para a vizinhança não mangar. Meu pai assava o bacalhau na brasa e servia com farinha para a filharada. A charque temperava o feijão e era também servida frita ou assada, provocando uma sede de secar o pote.

O sanduíche de mortadela era tradicional em São Paulo e vendido aos olhos da cara no Feitiço Mineiro e no Mercado Municipal, do amigo Jorge Ferreira, mas agora se transformou em comida de pobre.

A coxinha, que era popular, passou a simbolizar a juventude conservadora ou liberal, também adepta da nutela, uma gosma que eu ainda não tive coragem de experimentar.

O que se vê é que as pessoas têm vergonha do que são e tentam impingir vergonha aos outros, como se a gente fosse obrigada a viver conforme o padrão de terceiros.

Eu mesmo tinha muito orgulho de ver o meu pai de camisa volta-ao-mundo indo para a roça durante a semana e voltando com maxixe e bredo para nos alimentar. No sábado, ele vestia o paletó e ia ganhar dinheiro tirando retrato na feira de Princesa com uma máquina lambe-lambe, já em vias de extinção nos dias atuais.

As pessoas vivem tomadas por inveja e ressentimento, querem o que não podem ter e fazem qualquer coisa, até roubar e trapacear, para se apresentarem como vencedoras, sem medir as consequências. E ficam botando apelido nas outras, sem perceber que o bom da vida é dormir em paz e não ter de acordar com gente estranha tocando na campainha da casa às 6h da manhã.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 04/05/2017
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