NORMA CULTA E LINGUAGEM COLOQUIAL

Prólogo

Eu estava no terminal da integração em Campina Grande, PB, esperando qualquer ônibus que fosse em direção ao Bairro do Cruzeiro, local onde resido. Eventualmente e pela escassez de vagas para estacionamento, deixo o meu carro na garagem e vou ao centro, de ônibus, em busca de inspiração para escrever um texto novo, mas que seja útil para estudantes e autodidatas iguais a mim.

O ônibus da linha 909 estava apinhado. Ao meu lado um jovem integrante do Instituto Manassés (Centro de tratamento de dependência química) ajeitava sua mochila para vender seus produtos (balas, canetas etc.) aos passageiros. Ouvir a preleção ou cantilena desses jovens não é bom, mas, esse é o trabalho deles e o meu ônus da opção pelo uso do transporte público.

POR QUE ESTOU ESCREVENDO ESTE TEXTO?

Gosto de escrever sobre a linguagem coloquial fazendo comparações com a norma culta porque ambas estreitam os laços das relações sociais entre todos os níveis culturais. Melhor explicava isso o saudoso russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin quando escrevia com muita propriedade:

"As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios." (Bakhtin).

O pesquisador, pensador, filósofo e teórico Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975) foi uma das figuras mais importantes para a história e evolução da linguagem humana, e suas pesquisas norteiam até hoje estudos e teorias pelo mundo.

Sua influência é facilmente notada em estudos sobre história, filosofia, antropologia, psicologia, sociolinguística, análise do discurso e semiótica. Porém, sua maior contribuição, sem dúvida, foi o legado dos estudos da linguagem – considerada por muitos uma visão “translinguística”, já que para Bakhtin a língua não se encaixava em um sistema isolado.

Para Mikhail Mikhailovich Bakhtin, toda e qualquer análise linguística deveria tratar, também, de outros fatores como a relação do emissor com o receptor, o contexto social, histórico, cultural, ideológico e de fala, por exemplo. Segundo ele, se não fosse dessa forma, não haveria compreensão e o diálogo entre os seres humanos seria impossível.

COMO DISTINGUIR A NORMA CULTA DA LINGUAGEM COLOQUIAL

As pessoas querem “falar e escrever melhor”, querem dominar a língua dita culta, a correta, a ideal, não importa o nome que se lhe dê. Quando alguém estuda as 10 (dez) classes gramaticais do idioma português (Substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, adverbio, preposição, conjunção e interjeição) preocupa-se sobremaneira com a dita NORMA CULTA.

É claro que essa pessoa estudiosa não deve sair pelo mundo afora falando com os amigos como se fosse uma máquina dizendo, por exemplo: “Dê-me um abraço! Há quanto tempo não nos vemos? ”. A depender do nível cultural desse (a) amigo (a) haverá um franzir de testa ou um muxoxo quase imperceptível nos lábios porque essa pessoa quer ouvir algo menos mecânico, menos formal, mais COLOQUIAL do tipo: “Me dê um abraço! Há quanto tempo não te vejo? ”.

Portanto, posso escrever sem receio de estar cometendo alguma heresia gramatical: A LINGUAGEM COLOQUIAL é a linguagem usada no dia a dia, isto é, sem a preocupação com a correção obrigatória da NORMA CULTA.

CONCLUSÃO

Língua Padrão ou NORMA CULTA, como o nome sugere, é uma forma de língua escrita com gramática, ortografia e vocabulário padronizados. Já a LINGUAGEM COLOQUIAL compreende a linguagem informal, ou seja, é a linguagem cotidiana que utilizamos em situações informais, por exemplo, na conversa com os amigos, familiares, vizinhos, dentre outros.

Quando utilizamos a linguagem coloquial decerto que não estamos preocupados com as normas gramaticais, e por isso, falamos de maneira rápida, espontânea, descontraída, popular e regional com o intuito de interagir com as pessoas. Dessa forma, na LINGUAGEM COLOQUIAL é comum usar gírias, estrangeirismos, abreviar e criar palavras, cometer erros de concordância e erros de ortografia (quando escrevemos) os quais não englobam as preocupações com a norma culta.

O padrão de língua ideal a que as pessoas estudiosas querem chegar é aquele convencionalmente utilizado nas instâncias públicas de uso da linguagem, como livros, revistas, documentos, jornais, textos científicos e publicações oficiais; em suma, é a que circula nos meios de comunicação, no âmbito oficial, nas esferas de pesquisa e trabalhos acadêmicos.

Lembra-se do início deste texto onde eu escrevi que “O ônibus da linha 909 estava apinhado”? Provavelmente o leitor amigo irá pesquisar no dicionário o significado da palavra “apinhado”. É que eu utilizei a NORMA CULTA na supracitada frase. Se eu houvesse escrito: “O ônibus da linha 909 estava repleto, cheio, lotado, abarrotado” provavelmente a frase seria imediatamente compreendida porque, neste exemplo, eu escrevi utilizando a LINGUAGEM COLOQUIAL.

Ora, mais na frente, alguém solicitou uma parada, mas o motorista não atendeu a solicitação do passageiro que, imediatamente, gritou zangado: “Vai descer motorista! ”. Ora, quem iria desembarcar? O passageiro que solicitara a parada ou outra pessoa? Este é outro exemplo da LINGUAGEM COLOQUIAL.

Um exemplo semelhante é o de alguém tocar a sua campainha e você responder mecanicamente: “Já vai! ”. Ora, se utilizasse a NORMA CULTA você responderia: “Já vou! ”.

Um outro exemplo de LINGUAGEM COLOQUIAL, que gosto de utilizar, é o fato de você estar em um banheiro, quarto etc., com a porta fechada e/ou trancada e alguém bate: Toc, toc, toc, toc... Quase sem pensar você, e quaisquer outras pessoas responderá (responderia): "Tem gente! ". Claro que utilizar o verbo ter no sentido de haver ou existir é próprio da linguagem do dia a dia (informal), mas, sabemos que se trata de um erro crasso para a NORMA CULTA.

Pelo acima exposto concluo: Sem comunicação não há progresso! Sem informação não existe desenvolvimento. Sem estudo e perseverança não há como progredir no mundo competitivo em que vivemos. Sem amor próprio o desrespeito tende a assumir o controle até dos nossos pensamentos. No mundo massificado de hoje não há lugar para os bons, mas sim para os melhores qualificados que se informam e se comunicam.