Telefone, adeus...
Oficialmente Grahan Bell o inventou cem anos atrás, embora seja uma contribuição de diversos cientistas, assim como o automóvel e o rádio, porém não o vejo apenas pelo aspecto científico; não costumo me apegar a coisas materiais, especialmente aparelhos, que são para mim apenas objeto de uso, porém o telefone tem de mim um carinho todo especial.
Era criança e, pelo menos onde morava, eram poucos os que tinham um em casa; nem orelhões havia; tínhamos que ir até a padaria, onde havia um luminoso, indicando :" telefone público", e pagávamos a ligação ao dono do estabelecimento; isso as pessoas grandes, pois como criança queria ouvir a voz naquele aparelhinho que falava, quando os adultos me deixavam falar.
Depois vieram os orelhões, ou um só que havia no bairro, formando fila, porém você comprava uma ficha e falava o quanto queria; não havia tempo determinado; depois inventaram o tal do impulso e , toca carregar aquele peso enorme no bolso, especialmente se as conversas fossem longas. Tentaram fazer cabines, como aquelas em que o Super-Homem se trocava, mas no Brasil não deu certo, pois tinha outros usos, que se pode imaginar.
Outro coisa que gostava de fazer era passar trote, brincadeira inocente de criança, como tocar a campainha e sair correndo; na oficina de meu pai havia um telefone; buscava um número qualquer na lista (outra desaparecida!) e, devia ser bom , pois uma vez imitei o português da padaria e mandei chamar o marido; sorte que ele estava dormindo, mas a mulher acreditou!
Hoje o aparelho fica esquecido num canto da sala; muita gente nem o tem mais, só celular, mas teve seu período de glória; primeiro aqueles analógicos, de discar, pretos , brancos ou vermelhinhos; depois os digitais, em que ter um teclado era o máximo e, por fim o sem fio, que você leva pra onde quiser; havia até uma mesinha especial para o aparelho, com a lista guardada em uma gaveta. E era caríssimo para se ter um; em números da época, por volta de seis mil Reais! O meu foi adquirido pelos longos planos de expansão, imagine, você era até acionista da companhia telefônica, mas não deu tempo; primeiro tive celular e, quando ele chegou, já não valia nada; era só uma conta como as outras.
Um pouco de nostalgia: o telefone era só para recados e coisas importantes; quando você queria falar com alguém, tinha o trabalho de ir até a casa da pessoa,e vê-la ao vivo; confesso que era muito melhor; havia mais contato e convívio social; mesmo pelo telefone , era gostoso ouvir a voz da pessoa, coisa que poucos fazem hoje em dia. São bacanas os recados e os emoticons, mas não substituem uma boa conversa; para mensagens escritas se requer uma habilidade grande na linguagem para transmitir emoções; nem todos têm essa facilidade e as mensagens prontas são um pouco estereotipadas, coisa que não acontece no contato ao vivo. Além disso nos tornamos meros repassadores de mensagens prontas; mesmo com todas as facilidades, poucos criam coisas novas, o que é uma pena.
O progresso é inevitável; temos que nos conformar com a extinção das conversas e bate-papos; passaremos apenas mensagens escritas, muitas vezes abreviadas ;alguns saudosistas manterão seu telefone em casa, mesmo que não seja aquele dos Jetsons, em que se falava e via a pessoa, aliás, há o Skipe, mas parece que ninguém gosta de falar e ser visto, apenas em ocasiões especiais. Um dia relembraremos dos tempos de linha cruzada e do som de linha ocupada. Adeus...