O CARNAVAL NO PAÍS DAS “CINZAS”

Começo meu pensamento a dizer que o que aqui vou explanar é apenas uma mera opinião pessoal depois de sentir o meio.

Hoje, sexta- feira de Carnaval, iniciamos oficialmente mais uma bela festa cultural (que já começou há dias...), a maior do mundo, a que conecta o DNA da alegria e o sincretismo da arte com todas as áreas do conhecimento científico de ponta (tudo "high- tech" para os sonhos!) para se fazer o maior espetáculo da Terra, o que mobiliza todos os esforços possíveis e impossíveis, para que as fantasias , inclusive as dos turistas do planeta inteiro, possam desfilar na mais cobiçada avenida asfáltica de que sem tem notícia –a frenética Sapucaí- a se levar o tudo aquilo que hoje nos parece impossível chegar à apoteose da vida...por aqui e por ali.

Obviamente que não sou pessimista, curto a festa, apenas gosto de “desvestir” a minha fantasia naqueles momentos em que o ópio coletivo nos entorpece a lógica , embora paradoxalmente também nos instigue o pensamento sobre o que é deveras curioso entre nós.

Somos um país de grandes e de nem sempre inteligíveis contrastes!

Assim, peço licença para me desnudar como povo pelado (dentre tantos temas de reis pelados) pelos nossos enredos contemporâneos sem sequer me blindar a tantas balas que nos seguem perdidas pelos ares e pela terra, atiradas a esmo de propósitos construtivos.

Seguimos em perene Carnaval obnubilado...e tal é incrível.

Somos um país de gente maravilhosa, multi miscigenada, criativa, artística, inteligente, receptiva, gente festeira, gente hospitaleira, país de belíssimas mulheres com ginga nos pés e quadris, somos o país do futebol, do samba em todas as mais diversas avenidas, nas reais e nas surreais.

Somos o país campeão do marketing carnavalesco, e ainda que a altos custos da propaganda social, conseguimos vender ilusões com a mesma competência com que traçamos nossos destinos algo funestos.

Somos alquimistas: Rapidamente transformamos grandes festas em sucatas irreconhecíveis.

Como passistas das avenidas conseguimos levantar nossas bandeiras das vergonhas explícitas maquiadas em maravilhosas telas dissimuladas pela esperança que ora nos nutre, a despeito das tantas adversidades que nos consomem...pelas avenidas do tempo.

Construímos ilhas de fantasias temáticas (nossas tantas cidades maravilhosas –“as melhores do mundo para se viver!” disse recentemente um discurso ao mundo), donde, no entanto, nos basta um passo em falso adiante da linha demarcatória das alegrias irracionais para temos nossas vidas ameaçadas por toda sorte de violência catastrófica auto suplantada.

Sempre suplantamos nossos horrores.

Somos recordistas de nós mesmos no enredo abandono: sonegamos o mais importante cuidado à nossa principal "escola de samba" : desde a bateria dos passistas mirins até o desrespeito aos passsitas da velha guarda.

-Nota zero! às nossas tantas e perdidas comissões de frente!

Em pouco tempo de carnavais protagonizados pelas copa mundial de futebol e Olimpíadas, “arritmizamos” nossa bateria da vida harmônica em cinzas, e assim, seguimos pela avenida em franca desarmonia , a contar nossos mortos que já não cabem dentro das nossas carcaças coletivas, inclusive nas das grandes arenas já carcomidas pelo descaso, construídas com fundos de TANTA dor social, a desfilar a nossa incongruência humanística devastadora ao mundo que nos olha admirado.

Portanto, sustentamos nossas alegorias pelas avenidas às custas das nossas prioridades que jazem frente ao paradoxo das nossas escolhas equivocadas.

Mas é Carnaval...e nosso “gap” cultural amortecedor do todo já começou, aonde tudo nos é absolutamente possível: até se ser feliz juntos. Eu também quero sonhar...

Que, a tempo, sejamos todos campeões pelas nossas principais avenidas!

Eis a minha alegoria:

Então, nua de esperança, me revisto da fantasia de FÊNIX, a acreditar nos ser possível chegarmos unidos , sem máscaras, ainda que com nossa “escola” tão vilipendiada, à apoteose campeã da ética e dos reais valores de felicidade social; aonde nossas cinzas sejam apenas confetes e serpentinas, depois de "lavadas a jato" pelo tempo que ora desfila inerte e carinhosamente guardadas como as ingênuas fantasias dos nossos antigos e mais felizes carnavais.