Foto - 1941, Spencer Tracy, no cartaz do filme.

O médico e o monstro


Fiquei chocado com aquele “médico” (?) que, num grupo de WhatsApp, comentou, em uma postagem que vazou a gravidade do quadro clínico da ex-primeira dama Marisa Letícia, vítima de AVC: “Esses fdp vão embolizar ainda por cima. Tem de romper no procedimento. Daí já abre a pupila. E o capeta abraça ela”. Puxa, e o dito é neurocirurgião, ainda!

Logo, lembrei do filme que dá título a este texto, onde o médico, Dr Jeckyll, toma um composto por ele elaborado e vira um monstro, Mr Hyde. No caso do neuro, o monstro não precisou de estímulos para aflorar. Recordei também daquela “médica” (?) acusada de cometer eutanásia em seus pacientes na UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, em 2013. Imagina só, a gente, um parente ou amigo cair nas mãos dele ou dela?

Quando criança, as profissões que mais admirava eram policial, professora e médico. Protegiam, ensinavam e curavam. Pensem, então, em policiais que só protegem quem eles gostam, professoras reprovando alunos por antipatia e médicos matando ou se recusando a tratar pacientes, por motivações políticas, religiosas ou filosóficas? Aonde chegamos!

No extremo oposto, a médica do hospital Sírio Libanês, demitida sob acusação de ter vazado o prontuário de Marisa Letícia, tem recebido até ameaças de morte. Já vi nas redes sociais, inclusive, uma foto da moça em um protesto contra o ex-presidente Lula, segurando um cartaz. Pergunto: o suposto vazamento e a posição política dela seriam motivos para seu “justiçamento” terminal? Onde estamos! Acentue-se, de passagem, que, assim como o ex-presidente alega inocência em seus indiciamentos na justiça, a médica nega ter sido autora do vazamento e informa que apenas comentou na postagem, a pedido de colegas, o que o prontuário ali publicado indicava sobre a situação da enferma.

E já que falamos no ex-presidente e em seu luto, outra coisa que me deixou estarrecido foi a falta de respeito com ele e com sua família neste momento. Não só nas redes sociais, esse umbral virtual da barbárie humana, mas também em grandes jornais, da parte de jornalistas e filósofos “conceituados”. Ficam procurando, à esquerda e à direita, o “culpado” pela morte de sua esposa e, suprema vilania, chegam ao extremo de responsabilizá-lo! Fora aqueles que ficam comemorando a morte dela (inclusive um “procurador de justiça”!), pessoas sobre as quais não há o que dizer. Quem não respeita o luto das pessoas, vai respeitar quem e o que?

Por outro lado, acusam-no ainda de ter politizado a morte de Marisa Letícia. Ora bolas, ele fez política a vida toda e, no momento, seria o lógico ele expressar seu desejo em limpar a memória dela, provando na justiça que as acusações que também a envolviam são improcedentes. Natural isso! Mas para os que o ódio vira obsessão, para lhes satisfazer, não basta matar, tem de furar os olhos e esquartejar também. Nesse quadro horripilante, inusitadamente deram bom exemplo o atual presidente Michel Temer e o ex-presidente Fernando Henrique, que foram prestar condolências à Lula. Civilidade!

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DRA ROSÂNGELA – Aproveitando a abordagem sobre política e medicina, fiquei surpreso ao ler no Portal a composição das comissões da Câmara de Vereadores de Charqueadas e constatar a ausência do nome da vereadora Rosângela Dornelles na Comissão de Saúde. Levando em conta sua atividade profissional, seu currículo (inclusive na esfera pública) e a representatividade de sua votação em 2016, ela não teria muito a contribuir ali?

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GARATUJA – Depois da Banca do Povo, agora foi a Livraria Garatuja que fechou suas portas em Charqueadas que, em tempos idos, já foi uma cidade reconhecida pela pujança cultural.