A HIPOCRISIA DOS PRESÍDIOS

O Brasil sempre foi um país muito estranho. Talvez, o melhor seria dizer que as pessoas que vivem no Brasil são estranhas. Geralmente deixamos as coisas acontecerem para depois tomar providências. E na maioria das vezes, esse depois já é muito tarde.

Falar em massacres nos presídios brasileiros, e de novo parecer estranho. Com uma grande pitada de ingenuidade. Os acontecimentos vão além dos massacres. Só que falta coragem aos nossos governantes para admitir que o crime organizado está em guerra. Decidiram fazer dos presídios campos de batalhas.

Há algumas décadas quando alguém disse que o crime estava se organizando no Brasil, foi publicamente ridicularizado pelos políticos. Que acharam naquilo uma brincadeira de mal gosto. De quem ainda não havia se esquecido da ditadura. Onde já se viu o crime se organizar num país tão pacífico.

Foi diante dessa cegueira coletiva que de fato o crime se organizou. E foi além. Armado até os dentes, conquistou vastos territórios em todos os estados brasileiros. Enraizou-se no poder judiciário e começa financiar campanhas políticas com muito sucesso.

Outra idiotice dos nossos governantes, e dos direitos humanos, é apregoar que nas prisões os presos comuns se obrigam a escolher um lado. De novo a cegueira não permite a eles enxergarem que aqui fora, a quantidade de matéria-prima disponível para a indústria do crime é assustadoramente fácil e farta.

Outro grande erro dos governantes, da mídia e da própria sociedade, é olhar para as rebeliões nos presídios e esquecer de olhar no que acontece fora deles. Ninguém conseguirá estacar a violência nos presídios, sem estancar a violência fora deles.

Todos fazem questão de apresentar as estatísticas das vítimas provocadas das barbáries. Estranhamente as vítimas que o crime faz diariamente aqui fora, apesar de serem números que superam muitas guerras não geram nenhum impacto. E deveria ser exatamente o inverso.

Parece-me um verdadeiro absurdo tentar reeducar alguém que cometeu um crime, e foi preso. Presídio é um lugar para se cumprir uma pena. Não pode servir como uma espécie de escola. Fiquei pasmo, por exemplo, ao saber que os políticos presos por corrupção em Curitiba, são premiados com redução de dias na pena pela quantidade de livros que leem. Isso beira o ridículo.

A gritaria é geral. No Brasil se prende muito. E ninguém pergunta o motivo se se prender tanto. Agora entrou nos noticiários os tais “presos provisórios”. Logo quererão que acreditemos na existência de “crimes provisórios”. A hipocrisia também não deixa de ser criminosa.