Jogo marcado
A literatura que se detém na nova ordem mundial estabelecida pelo Ocidente após o término da Segunda Grande Guerra, talvez nos permita dizer que, seja em relação aos países em desenvolvimento, seja em relação aos que estejam num estágio superior, como as nações do leste europeu sob influência soviética no passado, nos dois casos, na eventual necessidade da restauração da tradicional ordem conservadora, ainda é necessária a destruição da resistência antifascista. Que se dá através do enfraquecimento dos sindicatos e outras formas de organização popular como meio de se evitar a ameaça de uma democracia mais radical e reformas sociais.
Só um poder conservador ainda marcado, de algum modo, por raízes fascistas, ou pelo menos reacionárias, pode explicar a diferença brutal, que a cada dia se acentua, entre os poucos que têm acesso a quase tudo e os muitos que têm acesso a quase nada. E isso se explica também pelo enfraquecimento das organizações populares e sindicatos cujas lideranças parecem perder o fôlego original quando começam a tomar parte no jogo do poder. Tornam-se vereadores, deputados, senadores e até presidentes da República e, imiscuindo-se com o poder conservador estabelecido, deixam de lado a força de trabalho que pretenderam representar e que se constitui no maior contingente populacional, além da que de fato mobiliza o país.
A relação patrão-empregado jamais será equânime. Pelo menos no mundo em que aprendemos a considerar o lucro ou a apuração de capital como a razão de nossas vidas. O patrão tem que ter lucro, sim. Sua empresa vai possibilitar ganhos aos empregados que vão garantir a sua sobrevivência e a da família. Mas o empregado não precisa ter só prejuízos. Com um salário aviltante, o pagamento de altos impostos, uma reforma previdenciária que reduza, na aposentadoria, seus vencimentos na vida funcional ativa em 50%, etc.
A manutenção desse quadro só interessa a um lado, o lado da elite conservadora, frequentado pelos mais poderosos.
A redução desse desequilíbrio, como é lógico, interessa aos dois lados e vai incidir diretamente no fortalecimento da nação, apontando para a sua independência.
Isso não vai é interessar às nações superdesenvolvidas que dominam o Ocidente, muito mais favoráveis às políticas reacionárias ou fascistas cuja implantação procuram favorecer nos países sob sua influência. No intuito de que seus interesses – muitos deles ilícitos – na região não sejam prejudicados. Ou de que o seu domínio não sofra interrupção.
Rio, 13/01/2017