A SEDIÇÃO DOS CHINELOS OU A REVOLTA DA FARINHA

Miguel Lucena e Maria José Rocha - Zezé

A Bahia foi palco de grandes levantes populares, inclusive a Guerra de Canudos, mas houve uma grande revolta em 1858 que ficou esquecida pela maioria dos brasileiros.

A Revolta da Farinha ocorreu a 28 de fevereiro de 1858, quando uma multidão invadiu a Câmara dos Vereadores de Salvador e o Palácio do Governo exigindo “carne sem osso e farinha sem caroço”, posto que os produtos, além de muito caros, eram de péssima qualidade, especialmente a farinha caroçuda que terminava por estragar os dentes já não tão conservados dos pobres da época.

O protesto, porém, começou por outro motivo: um grupo de rapazes correu para acudir órfãs pobres que pediam socorro das janelas da Santa Casa de Misericórdia, após sofrerem maus-tratos aplicados por freiras francesas, trazidas pelo arcebispo Dom Romualdo Seixas para tratar dos doentes internados no Hospital da Misericórdia.

Os maus-tratos provocaram ferimentos no rosto das órfãs, o que levou os rapazes a fazerem um escândalo na rua, razão pela qual o arcebispo resolveu transferir as moças para o Convento da Lapa. Houve reação dos jovens, iniciou-se uma passeata e a população foi aderindo, transformando a manifestação em um levante contra a carestia.

A multidão apedrejou prédios públicos e invadiu a Câmara, tocando o sino para chamar mais gente, o que engrossou o levante. O governo reagiu com a cavalaria contra o povo, que gritava “carne sem osso e farinha sem caroço” e ainda provocava o governante da época, Conselheiro Sinimbu, a quem mandavam tomar naquele canto.

O protesto recebeu também de cronistas da época o nome de Sedição dos Chinelos, porque, fugindo da repressão, as pessoas deixaram uma enorme quantidade de chinelos abandonados nas ruas.

O clamor das ruas provocou debates no Legislativo, mas disso não passou, porque o povo continuou comendo chupa-molho e farinha caroçuda, antes que surgisse, tempos depois, a famosa farinha de copioba.

O historiador João José Reis conta que, descrente das providências a serem tomadas pelas autoridades baianas, o pedreiro Theodosio da Costa Lima, que se ocupava de obras públicas, escreveu ao Imperador Pedro II, em novembro de 1858, pedindo aumento salarial: “A minha remuneração, na época atual, quando a carestia nos aperta em seus braços de ferro, não pode chegar para a alimentação de uma família grandiosa”.

Miguezim de Princesa e Maria José Rocha - Zezé
Enviado por Miguezim de Princesa em 12/01/2017
Código do texto: T5880016
Classificação de conteúdo: seguro