Atitudes e Pensamento
Numa conferência mundial sobre a saúde do pulmão, em maio de 1990, o Cirurgião Geral aposentado dos EUA, Charles Everett Koop, pioneiro na cura de bebês prematuros e defeituosos, percebendo que a exportação do tabaco americano tinha crescido 20% em relação ao ano anterior enquanto o fumo nos EUA tivera uma redução de 5%, tornou a chamar a exportação de tabaco de um “insulto moral” e denunciou como o “máximo da hipocrisia” exigir que determinados governos parassem com a exportação de cocaína “enquanto que ao mesmo tempo (nós, americanos) exportamos nicotina, uma droga tão viciante quanto cocaína”.
Há algum tempo atrás, fins do século passado, os EUA eram tidos como os maiores exportadores de DDT do mundo, enquanto a praga dedetizadora era de utilização proibida em todo território americano.
Nos EUA existem, dentre inúmeras instituições, a Associação Americana do Coração (American Heart Association), a Sociedade Americana do Câncer (American Cancer Society) e a Associação Americana do Pulmão (American Lung Association). Preocupar-se com a saúde no próprio território, sim. Em território alheio é outra história. Não somos nós quem o dizemos, mas eles mesmos. Ainda em 1990, diante de críticas aos esforços no sentido de favorecer a abertura de novos mercados para os cigarros americanos em todo o mundo, o Departamento de Assuntos Humanos e de Saúde (Department of Health and Human Services) procurou defender-se explicando que “se tratava de uma questão de comércio, não de saúde”.
Esse é o pensamento americano. Business. Que não deverá se alterar substancialmente com o Trump. Como não aconteceu com nenhum outro presidente. Ocorra ou não a construção retrógrada de qualquer muro. Sempre haverá a necessidade suprema de exportação. Remédios, armas, ogivas nucleares (obviamente sem a transferência de tecnologia), exércitos paramilitares, mesmo drogas, ainda que sejam as lícitas – o fumo e o álcool. Exportação até daquilo que eles efetivamente não produzam. Mas beneficiem. Como a nossa babosa (aloe vera).
Rio, 18/11/2016