MINHAS VAIDADES

MINHAS VAIDADES

Eu não tenho muitas vaidades, materialmente falando. Não tenho, mas já tive... Em um mundo que cultiva a vaidade pessoal como fator de diferenciação, não é fácil deixar de lado as aparências.

Recordo que, na época em que trabalhava, como as funções de Gerente ou Superintendente da Caixa exigiam, eu andava por demais aprumado. Fazia a barba diariamente, aparava o cabeço aos sábados e não descuidava da aparência. Em termos de vestuário era um des-bunde. Tinha mais de dez ternos, um de cada cor, do branco ao preto, passando pelo cinza, bege, verde, azul-marinho, vinho, marrom, azul claro e outras tonalidades que nem lembro mais, além dos casacos-esporte (hoje os “coxinhas” chamam de blazer) de várias colorações e modelos e das calças que combinavam com eles. A isto some-se uma infinidade de camisas sociais, e as gravatas de vários tons que combi-navam: cheguei a ter quarenta! Outra faceta dessas vaidades era a combinação que eu fazia do sapato, com a “capanga” e o cinto, em to-das as cores dos ternos: verde, cinza, vinho, bege, azul, marrom, etc.

Hoje eu olho para trás e vejo que tudo aquilo era uma enorme vaidade. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! Vejo também que não era somente uma vaidade pessoal, mas uma exigência da minha posi-ção profissional, afinal, noblesse oblige. Depois de aposentado caí no outro extremo. Hoje me considero um cara despojado: minha mulher me acusa de ser despojado demais. Ando de abrigo, bermudas, cami-seta, machão (regata) e invariavelmente tênis, me barbeio duas vezes por semana, corto cabelo a cada trinta dias... Às vezes levo esse despo-jamento até para algumas ocasiões onde deveria ser mais formal.

Em matéria de carros também virei o fio. Antes eu olhava na re-vista “Quatro Rodas” para ver qual era o “carro do ano” e assim tive DKW, Caravan, Passat, Corcel, Voyage, Parati, Monza, Santana, Opala quatro portas, e hoje me contento com um “Fiestinha” ou um Uno, que me levam ao mesmo lugar onde os outros me levavam, sem toda aque-la ostentação. Eu me vangloriava de minha biblioteca de 3000 volu-mes. Por necessidade de espaço (no processo de despojamento troquei uma “cobertura” por um apartamento comum) e hoje devo ter uns in-dispensáveis 800 títulos.

Só existe uma vaidade que ainda tenho e da qual não posso me desfazer: é meu acervo intelectual. São aquelas coisas que aprendi e guardo na cabeça e que, de um jeito ou de outro, formam um conjunto distintivo que me orgulha e, em muitos casos, atrai inveja e até inimi-zades. Esse aspecto intelectual que trago comigo, representado pelos meus 123 de QI não deixa de ser uma vaidade que exige, já que dele não posso me libertar, um severo policiamento. Afinal, tudo é vaidade!