O povo que ajudou a eleger Trump

O que muitos achavam impensável aconteceu: Donald Trump foi eleito o novo presidente dos Estados Unidos, causando uma verdadeira onda de surpresa, já que a vitória da candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, parecia garantida. Isso leva muitos cientistas políticos a se perguntarem: o que será de nós com Trump governando a nação mais poderosa do mundo pelos próximos quatro anos? Isso se ele não se reeleger, como fizeram seus antecessores Barack Obama, Bill Clinton e George W. Bush. Mas a verdade é que devemos mesmo nos preocupar, porque as decisões e atitudes de Trump repercutirão no destino do mundo, e não sabemos com certeza o que o futuro poderá nos reservar, porque a política não é uma ciência exata.

Cabe-nos fazer a seguinte observação: o que levou tanta gente a preferir votar num candidato sem experiência política, parlapatão, ególatra, desprovido de habilidades diplomáticas, com um histórico de atitudes cafajestes com as mulheres e que, durante a campanha, portou-se de modo grosseiro e ridículo, atacando sempre que podia a conduta ético-moral da adversária?Se analisarmos bem, há uma enorme conjunção de fatores que não envolvem a competência do candidato vitorioso, mas sim o fato de que Trump falou o que boa parte dos eleitores queria ouvir.

Ele prometeu construir um muro para barrar a entrada de mexicanos no país, expulsar muçulmanos e adotar tantas outras medidas que representam o gosto do americano médio, o qual não gosta de latinos (estando nós, brasileiros, incluídos), muçulmanos e negros. Para muitos, só é verdadeiramente americano quem for branco, anglo-saxão e protestante, correspondendo à sigla WASP(White, Anglo-Saxan and Protestant). Para o americano médio, quem for negro, latino, árabe ou pertencer a outra etnia ou cultura, é "intruso", "inferior". Infelizmente, o fato de um negro ter governado os Estados Unidos por oito anos não significa que os Estados Unidos tenham superado o racismo e o preconceito cultural e se tornado mais tolerantes.

E se alguém assistir a Fahrenheit 11 de setembro, do americano Michael Moore, poderá ver que a cultura dos americanos é retratada como sendo pobre e superficial. Vale salientar que pesa muito um americano criticando a cultura americana de forma tão impiedosa, mostrando que os seus compatriotas não têm muito conhecimento geral, mas se acham superiores ao resto do mundo, com direito a interferir até na vida dos outros países, como foi feito no caso do Afeganistão e Iraque durante o governo de George W. Bush. Alguém não lembra que Bush, para justificar a invasão do Iraque, inventou que o país teria armas químicas, ou seja, mentiu? Ele atropelou não apenas as normas da ONU, mas também princípios éticos, mostrando-se alguém capaz de qualquer coisa para satisfazer a uma vontade pessoal, já que o Iraque não representava uma ameaça direta. Quantas vidas ele não sacrificou inutilmente? Talvez ele tenha , ainda que de forma indireta, causado mais mortes do que Osama bin Laden. E se falou em alguma sanção contra esse homem?

Quem é o povo que ajudou a eleger Trump? É um povo preconceituoso, que não gosta de estrangeiros, negros, muçulmanos, não abre mão de ter uma arma em casa e que não tem consciência crítica. Enfim, não é um povo de visão abrangente, embora se ache superior aos outros. Não é uma cultura que se possa admirar, mas não é de admirar que tenham preferido um palhaço arrogante.