Gastos sociais e funções sociais
Segundo certos articulistas, Dilma não caiu "pelas supostas pedaladas, tampouco por corrupção e muito menos pela gastança". Dilma teria sido deposta pela sua "incapacidade de reduzir gastos sociais" na exata medida dos desejos da elite.
Os gastos sociais são os que devem, na ótica de um governo que se acredita progressista, tornar mais fácil ao povo o acesso a bens ou itens de primeira necessidade. O que nunca é ou será do interesse da elite. Nesse sentido, Dilma teria sido injustamente deposta.
Citam ainda tais articulistas uma enquete da revista "Valor Econômico", segundo a qual dentre 199 dos mil maiores empresários do país "apenas 2% consideram que a preocupação maior do governo deva ser com a corrupção" e que somente 1% deles se preocupariam com educação e crescimento econômico.
Nada demais nisso. Talvez encontremos 199 ou mais empresários, importantes ou não, envolvidos em rumorosos casos de corrupção durante os governos Lula e Dilma, ou outros governos, sendo razoável que eles com a corrupção se preocupem apenas quando estiverem sendo processados pelo MPF. E também não se preocuparão com educação ou crescimento econômico enquanto seus lucros estiverem sendo mantidos, ainda que à custa de procedimentos ilícitos ou participações criminosas em desvios de recursos públicos.
Ocorre que se programas como o Bolsa Família facilitam a aquisição pelo povo de móveis, eletrodomésticos ou gêneros alimentícios mais elementares, eles não garantem a existência de melhores ou mais escolas, hospitais melhor aparelhados ou com mais leitos, maiores oportunidades de emprego e saneamento básico e superiores condições de segurança, sobretudo em comunidades carentes.
Se pudermos trocar os gastos sociais por essas funções sociais, mais intrínsecas que superficiais, beneficiados serão os mais desassistidos com a efetiva melhoria da sua condição de vida.
Quanto aos empresários (ou a elite), sendo ou não o povo atendido naquilo que lhe for mais essencial, o que de fato lhes interessa é que seus lucros não sejam reduzidos. Trabalhando com Dilma ou com Temer, ou com os dois, conforme vimos, a perspectiva de faturamento deles será sempre a mesma.
Rio, 26/10/2016