Fardado, você também é explorado!

No meu último texto, advoguei em favor de dois "black blocs". Agora, para espanto dos meus três ou quatro leitores, resolvi sair em defesa da Polícia. Da polícia, Estevão? Bem, na verdade é uma defesa do ser humano. Às vezes, esquecemos que por trás da farda existe uma pessoa que chora, que ri, que sofre, que ama etc.

Antes, preciso deixar claro que sempre fui contra a Polícia Militar (instituição) e defendo a sua desmilitarização. Embora eu não seja marxista nem anarquista, herdei dessas correntes a tese segundo a qual as forças armadas são o braço armado do Estado que tem por objetivo manter o status quo. Soma-se a isso a visão negativa da Policia que adquiri através das experiências que tive ao longo da vida.

Minha relação com os PMs pode ser traduzida nos seguintes termos: não devo, mas temo. Depois, a constatação de que toda pessoa investida de autoridade tende a ser arrogante e prepotente me impede de gostar deles.

Apesar disso, não vejo com bons olhos essa tendência de esquerda que me parece ser uma desumanização da Polícia. Fico até incomodado quando vejo denominações do tipo "porcos, cães, vermes" em referência aos agentes de segurança. Lembra o fascismo.

O que a maioria da esquerda esquece é que o policial também pertence às camadas proletárias. Como bem notou Marcelo Freixo, eles “são quase todos negros, são quase todos pobres, são quase todos nascidos na periferia”. Essa relação de classe inclusive fez com que o diretor Pasolini, membro do Partido Comunista Italiano, se identificasse mais com a Polícia repressora (proletária) do que com os estudantes revoltados (pequenos burgueses) no Maio de 68, em Paris.

A demonização da Polícia Militar, aqui no Brasil, em parte se deve a própria instituição, pois, é uma das mais letais do planeta. Ao mesmo tempo, está entre as que mais morrem. Aí cabe a pergunta: as vidas deles por acaso não contam também?

A PM, em função do seu culto à guerra e sua visão maniqueísta de mundo, tem sua parcela de culpa na violência que assola as comunidades do Brasil. Mas não se pode ignorar que os traficantes impõem dentro delas um regime de terror paralelo ao do Estado. E que esses traficantes estão em guerra PERMANENTE uns com os outros. Se o problema fosse só a polícia nos morros, o falecido Brizola teria pacificado o Rio nos anos 80.

Este é o tipo de texto que faz com eu que apanhe da turma que acusa seus adversários de "defensores de bandidos" e da turma - com a qual eu tenho mais afinidade - que acusa a PM de ser genocida. De todo modo, não desejo agradar a ninguém.

Para finalizar, gostaria de dizer que sou defensor incondicional dos Direitos Humanos e, nesse sentido, creio que a vida é o bem mais precioso que temos, de maneira que a morte de qualquer ser humano é uma tragédia. Seja a de um bandido ou de um policial.

Estevão Júnior
Enviado por Estevão Júnior em 04/10/2016
Reeditado em 06/10/2016
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