RUINA

RUÍNA

Deles se poderia dizer que formavam um casal bacana. Relativamente jovens, dois filhos, prósperos, inteligentes, ambos com formação superior, possuíam uma boa casa, tinham ótimo conceito entre seus amigos, ela era profissional liberal e ele alto executivo de uma estatal. Aparentemente não lhes faltava nada. Ele era afável, um bom amigo que falava tudo nos diminutivos: “vamos fazer um churrasquinho, com umas liguicinhas, uma saladinha, tomar um vinhozinho...”. Tudo ia bem, mas um dia a casa caiu...

De repente ele apareceu com outra mulher no pedaço. Aquilo chocou os amigos, por causa da aparente solidez daquele casamento, e pelo conhecimento da outra, uma percanta divorciada que era chegada em aventuras. A esposa traída permaneceu em casa com os filhos e ele foi morar com a “artista”. Como era de se prever, o romance, pelas características dos dois amantes, não deu certo. Caindo em si, vendo a burrada que havia cometido, ele pediu perdão, propôs reconciliação com a esposa que não aceitou nem conversar sobre o assunto. Os amigos, colegas, parentes, todo mundo tentou a aproximação que não deu certo. Ele queria voltar para a casa, esposa e filhos, mas ela se mostrou irredutível, não aceitando a interferência dos amigos mais chegados.

Ele foi irresponsável atirando-se naquela aventura idiota, enquanto ela se mostrou inflexível, incapaz de perdoar o marido a quem dizia amar. Quando a gente não perdoa está mostrando que ama mais a si mesmo do que ao outro(a). Coisa danada é o amor-próprio quando se revela mais forte que tudo... Só o perdão liberta a pessoa; caso contrário, ficamos prisioneiros, a vida toda de mágoas e ressentimentos. Se ele contribuiu para a ruptura familiar com sua atitude infantil de aventureiro barato, ela, dando uma de ofendida completou o processo, não admitindo qualquer retomada do reatamento da relação.

Em seguida ele se aposentou e foi morar sozinho numa casa que comprou na praia. Um dos filhos, mais chegado no pai foi morar com ele. Mas, os dados da má sorte já haviam sido lançados. Por conta da mágoa, da solidão e do sentimento de culpa, sua saúde foi se debilitando para tristeza de seus amigos. De outro lado, sem maiores evidências a saúde da mulher foi ficando comprometida, até um dia em que inesperadamente, seu duro coração deixou de bater. Poucos meses depois ele também morreu, deixando os dois filhos, embora economicamente apoiados, afetivamente na orfandade. Um drama que poderia ter sido evitado, se houvesse mutuo bom-senso. De fato, como foi dito lá no início, um dia a casa caiu, e foi grande a ruína dessa casa...