GUERNICA – UMA TRISTE REFLEXÃO

Desde que o homem se reconheceu como um ser pensante, ele tem buscado uma compreensão de si mesmo, e do outro, sem, contudo, obter sucesso.

Surgiram, ao longo dos séculos, inúmeras correntes de estudo, dentro da filosofia, da psicanálise, da historiografia, enfim, dentro de todos os campos do saber, tentando sempre, compreender esse homem, que age e interage consigo próprio, na sociedade e na natureza. Tais correntes se fossem na física, seriam chamadas de correntes elétricas de mesmo sinal, pois embora parecidas, se repelem, como se não pudessem conviver. Mais que isso, elas buscam, incessantemente, provar que estão certas, que o que dizem, é a verdade.

A verdade, contudo, é relativa. E depende da posição em que se ocupa dentro do mesmo quadro. Isso não tem discussão. É fato inquestionável. E por falar em fato, relato aqui, um que vem elucidar minhas palavras: O primeiro e triste ensaio de preparação para a Segunda Guerra Mundial, a saber, o bombardeio sobre Guernica.

Guernica era uma vila basca, com aproximadamente seis mil habitantes. Pequenina, mas detentora de grande simbolismo desde a Idade Média, pois ali, fora assinado os foros bascos, conjuntos de leis que garantia e regulamentava os direitos e costumes dos povos bascos.

Certamente, com objetivo de humilhar esse povo, que em 1936, assinou um tratado de autonomia com o governo espanhol, o general Franco, com o apoio de Hitler, a escolheu como alvo para iniciar seu bombardeio sobre civis, naquele que seria o primeiro ensaio teste para os aviões da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), a serem utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.

O fato provocou uma comoção mundial e Picasso, que residia em Paris naquela época, abalado com as notícias amplamente divulgadas em toda a Europa, teve a ideia de pintar um painel retratando os horrores causados pelo bombardeio. Conta-se, que um soldado alemão teria perguntado a ele: “ Essa obra é sua?” e Picasso teria respondido: “Não. Essa obra é sua”.

Verdade: Picasso retratou o ataque a Guernica. Ele estava presente? Não. Mas retratou aquilo que fora noticiado através da imprensa europeia na época e que o abalou emocionalmente. Sua obra eternizou não apenas o fato em si, mas sua visão crítica e analítica do massacre, que chegou até ele, através de jornais. Também é verdade que aquela obra era de autoria dos soldados alemães. Afinal, foram eles que, atendendo à ordem de seus superiores, bombardearam a pequena vila. Imagino qual deve ter sido a reação desse soldado, ao ver com que facilidade, seus companheiros de farda conseguiram aniquilar centenas de pessoas. Satisfeito, talvez. Já que o sucesso garantia o desempenho de sua força aérea, durante a guerra que se desencadearia. Será?

Como disse anteriormente, a verdade é relativa, e nosso julgamento depende realmente da posição que ocupamos dentro do quadro. Talvez seja por isso que muitos de nossos dirigentes têm um discurso antes de se tornarem líderes e outro depois. Como Fernando Henrique Cardoso que publicou vários livros e artigos sobre a burocracia estatal, elites industriais, e teoria da dependência, sendo que, em seu governo, agiu contrariamente a tudo o que pregou. Em um jantar com empresários, em 1993, ele que, na época, era Ministro da Fazenda do então presidente Itamar Franco, teria supostamente dito: “Esqueçam o que escrevi”. Em 2011, em entrevista a folha de são Paulo, ele nega tê-la pronunciado. Mas, fica o dito pelo não dito. E, verdade ou não, é certo que suas ações foram contrárias as suas teorias.

Outro que também mudou de opinião, foi o nosso digníssimo ex-presidente Lula, que apregoava, a plenos pulmões, até no programa do Silvio Santos, que o problema do Brasil era a corrupção. Segundo ele, aqui predomina a teoria do que leva vantagem em tudo, e que isso deveria ser mudado em seu mandato, pois lugar de corrupto é na cadeia. E, não é que ele e seus comparsas acabaram de entrar para a história como os engendradores do maior plano de corrupção do Brasil, talvez do mundo.

Não, podemos nos esquecer, no entanto, que todo quadro tem, também, um terceiro lado: o de fora. É nesse lado que nós, cidadãos comuns, nos posicionamos. Observamos, veementemente, as ações de nossos dirigentes, e a obra que executam diariamente em nosso país: um quadro de pobreza, aniquilamento das instituições sociais e morais de nossa nação. Um quadro onde se permite interpretar, mostrar, falar e cantar qualquer besteira pornográfica e veicular por toda parte, mas que acaba de propor, através do projeto de lei Escola Sem Partido, a extinção de várias disciplinas, e preveem punição e afastamento para os professores que ministrarem e discutirem conteúdos que contrariem os valores políticos, morais e religiosos dos alunos.

Infelizmente, nem todos os que observam um quadro, conseguem compreender sua dimensão histórica e social, para isso, é preciso visão crítica, analítica e participativa dentro da sociedade. Isso se consegue tendo conhecimento das várias correntes dentro de cada área do saber, pois, é justamente esse antagonismo entre elas, que nos torna aptos a julgar por nós mesmos, cada acontecimento por trás dos noticiários e redes sociais. Não importa se o discurso é de direita ou esquerda, o que importa é sua função social e acadêmica. É preciso estudo, e estudo que seja de qualidade. E é justamente isso, que nos tem faltado, mas a política do pão e circo permanece com ou sem crise. A educação vai mal, a saúde vai mal, também o transporte, segurança e etc. Mas as “bolsas” continuam. E vão continuar, pois exercem uma importante função: mantém o pobre de barriga cheia e longe de manifestações. Até quando?

Iniciei este artigo comentando que, desde que o homem se reconheceu um ser pensante, ele tem buscado uma compreensão de si mesmo e do outro, sem, contudo, obter sucesso. Temo estar enganada. Dentro deste quadro em que vivemos o homem não busca compreender a si mesmo e o outro. Ele busca enriquecer a si mesmo e aniquilar o outro, infelizmente, com sucesso. Em sua trajetória, busca incessantemente, provar que está certo, que o que diz, é a verdade. Mas toda verdade passa por um julgamento e não é a toa que o Tribunal Judiciário tem várias instâncias.

Esteja você na instância maior e julgue por si mesmo, cada detalhe desse quadro. Não se deixe retratar como mais uma vítima desse bombardeio de corrupção.

Se desejar saber mais, acesse:

PINTO, Tales Dos Santos. "Guernica, a história de uma obra"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/historiag/guernica-historia-uma-obra.htm>. Acesso em 25 de setembro de 2016.

Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queiroz, ISNN 2179-9636, Ano1, Número 2, junho de 2011. www.faceq.edu.br/regs

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