Fim dos Jogos

Agora que se encerraram as Olimpíadas, cabe a pergunta: O Rio saiu maior depois dos jogos? Não sei dizer. Talvez tenha saído; pelo menos em número de desempregados. A situação catastrófica do Estado contrasta com a da cidade que recebeu o maior evento esportivo do mundo.

Mas não se pode ignorar que o megaevento ajudou a aquecer a economia da cidade e a melhorar a imagem do País lá fora. Se antes o Brasil era um "lugar sujo, violento e cheio de mosquitos", agora passou a ser incrível, segundo a maioria dos turistas. No entanto, o mais importante de tudo foi que o brasileiro recuperou um pouco do que havia restado de sua autoestima.

Digo mais, acho que o mundo precisava deste evento. As pessoas andavam apavoradas com o terrorismo, a guerra e Donald Trump. Nesse sentido, as Olimpíadas proporcionaram um momento de alívio e descontração. Entendemos que, apesar do medo, ainda existe esperança, sem a qual a vida é um eterno luto; e, apesar da violência, ainda existe solidariedade, sem a qual só nos restam a ignorância e apatia.

Eu, que nunca fui um grande entusiasta dos esportes, tirando o futebol, vibrei junto a milhões de brasileiros a cada vitória e lamentei cada derrota. Percebi como o esporte salvou a vida de muitos daqueles atletas e que investir nos esportes é tão importante quanto investir em educação, saúde, cultura.

Houve, é claro, retrocessos sobre os quais não posso deixar de falar, como a remoção de comunidades. É insustentável essa lógica capitalista segundo a qual o progresso urbano é alcançado por meio de um trator passando por cima dos lares das famílias. Embora eu reconheça que a cidade cresceu durante a gestão do Eduardo Paes, não modifica o fato de que ele sobrepôs os negócios às pessoas.

Teve também os gastos públicos, ainda que, de acordo com os dados oficiais, a maior parte dos recursos coubesse à iniciativa privada, e grande volume desse dinheiro tenha sido para obras de legado tal como Linha 4 do metrô,VLT, BRT, revitalizações de espaços públicos, etc. Mas quando se fala em obras de infraestrutura no Rio, se fala em superfaturamento, propina, Eduardo Cunha. Assim, é natural a desconfiança.

Outro destaque negativo foi a ausência de transmissão dos Jogos Paraolímpicos em rede aberta. Foi, no mínimo, uma falta de consideração das emissoras de televisão para com os atletas paralímpicos. Vergonha total! Será que elas compartilhavam do ponto de vista do jornalista Joaquim Vieira, para quem as Paraolimpíadas eram “um espetáculo grotesco, um número de circo”? Por falar nesse sujeito, já até imagino o nome do filho dele: Adolfinho.

Após a Rio-2016, o COI (Comitê Olímpico Internacional) será forçado a mudar o conceito de que a cidade-sede deve se adaptar ao evento, quando é o evento que deve se adaptar à (realidade da) cidade. Não digo que a cidade não tem de realizar os "ajustes necessários", mas sim que os organizadores devem ser mais flexíveis, assim como a Prefeitura deve respeitar mais os direitos das pessoas e os limites do município.

Apesar dos inevitáveis transtornos e de alguns episódios tristes, deu tudo certo no final. O saldo foi positivo, contrariando as expectativas ruins da imprensa internacional e local e o próprio mau humor dos brasileiros.

Não divulgarei qual foi o grande legado olímpico porque não saberia traduzi-lo em palavras; mas - na falta de um termo adequado - diria que tem a ver com aquela emoção, ou qualquer coisa análoga a isso, que a maioria das pessoas deve ter sentido quando os atletas pelos quais torciam (independente da nacionalidade) marcavam pontos, quebravam recordes e subiam ao pódio. É algo indescritível!

Estevão Júnior
Enviado por Estevão Júnior em 21/09/2016
Reeditado em 21/09/2016
Código do texto: T5768157
Classificação de conteúdo: seguro