O GRITO FALHO DE INDIGNAÇÃO
*Sineimar Reis
Desde meus anos escolares gostava de tratar sobre temas políticos, no dia-a-dia eu me desperto com a política, embora durma com política. Quando abro as redes sociais, e meios de comunicações relevantes, em primeira instância logo “devoro” as notícias, opiniões, artigos e até mesmo alguns comentários de opiniões das pessoas. Depois de ler notícias de jornais pela internet, poucas são as vezes que folheio o jornaleco da “Folha”, “Estadão” entre outros, tenho o costume de pesquisar por blogs de maneira geral. E na escola, quando estou de horário vago. Bom, ultimamente sempre estou ligado ininterruptamente.
Enfim, desde pequeno escuto sobre política, pois meu pai sempre deixava o aparelho de rádio ligado na programação rede Itatiaia, Band News ou CBN, todas as noites ele ouvia a Voz do Brasil e Rádio Senado (sempre ouvia junto com ele). Já na faculdade, um grande amigo, hoje professor de história, sempre indagava questionamentos de apologia da esquerda, no qual aprendi muito com isso, às vezes não me importava, mas ao chegar em casa ou em horas de cansaço na faculdade me dirigia para o laboratório ou biblioteca manter-me mais informado, assim assumia numa boa minha posição moderada. Ainda jovem, sempre interessei por temas históricos da sociedade, comunitários e projetos sociais, gostava de desenhar charges relacionadas a política do cotidiano. No ensino médio passei a ter mais consciência da importância do “ser político”, que deveria se pautar por idealismo, desprendimento, seriedade e vontade de realizar, todavia estava folheando os livros de história na parte história do Brasil. Os movimentos sociais, assim como a política, permitem-nos conhecer melhor os problemas e as demandas da população e a emergente necessidade de solucioná-los ou, pelo menos, amenizá-los. Nunca participei de trabalho comunitário, mas aprendi como fazer reivindicações aos órgãos públicos, a conscientizar as pessoas de seus papéis como seres inseridos numa sociedade cujas necessidades básicas devem ser atendidas.
Há pouco tempo cerca de 4 anos, nas proximidades do bairro Jardim Teresópolis, adquiri um lote onde, um bom número de sem-teto dormia debaixo de lonas pretas e barracos de madeira. Confesso que aquilo incomodava. Vizinhos reclamavam da desordem e das más condições de higiene (ainda reclamam). Mal sabia que aquelas mesmas pessoas, um dia, passariam a fazer parte do meu convívio. Fui levado por pessoas, fui apresentado ao assentamento de terra da Comunidade Jardim Vitória. Naquele período, existia apenas o terreno com suas ladeiras de terra, repletos de lixo jogados pelo chão, bichos-de-pé etc... As lonas pretas eram as mesmas em que famílias inteiras, com uma penca de crianças, repartiam o exíguo espaço. Não havia água encanada, apenas poeira e um córrego que antigamente era encanação da COPASA, Hoje o mesmo poluiu-se ainda mais.
Estávamos sempre lá, levando ferramentas, materiais, direcionando a alguns afazeres, ajudando aqui, ali, certa vez dirigi-me a administração regional do Imbiruçu para mandarem uma máquina retro escavadeira e um Caminhão de Terra mas não me concederam a promessa , enfim, acompanhando e observando o dia a dia daquelas pessoas. Em um ano, vimos o local se transformar e, hoje, ser considerado um modelo de assentamento bem-sucedido. Quando dirijo minha visão para os fundos do antigo terreno me lembro das dificuldades iniciais, fico feliz ao ver o lixo organizado na lixeira que fizemos, as ruas ainda não asfaltadas, mas mais arborizadas, as casas com dois andares, algumas com varandinhas, janelas blindex outras até mesmo com plantas enfeitando seu interior e as pessoas vivendo com dignidade. O assentamento ainda apesar de não ter ligação de energia e água liberada é para mim um dos milhares de exemplos de que, quando há vontade política e envolvimento da sociedade, as coisas tornam-se possíveis.
Se grande parte da nossa classe política, em vez de olhar para seus próprios interesses, locupletando-se com os meios mais escusos e ilícitos para se perpetuar no poder, fizesse a verdadeira política, com consciência, desprendimento, sensibilidade, eficiência, honrando e respeitando a coisa pública, as coisas seriam diferentes. Se primassem mais pelas virtudes do que pela esperteza, a realidade seria outra. É ruim nos depararmos com o lamaçal de sujeiras que assola o país. Sucessivos escândalos correndo o risco da banalização. É ruim saber que apenas uma pequena parte dos recursos do orçamento vai para a infra-estrutura e a educação, isso quando não desaparece no escoadouro da corrupção e da ineficiência administrativa. Impostos exorbitantes e mal-empregados, pretensões de investimentos descabidos como o rio Betim, a linha Move agora pela Avenida Amazonas, trem-bala, Trincheira de Contagem etc.. Quando o metrô é uma carência crônica sofrida nas metrópoles. Padecer com a imperiosa demanda na área da saúde e vê-la relegada ao fim da fila. Mas não vou aqui repetir o mantra que hoje ecoa em cada canto do país. Apenas manifestar meu alívio em constatar que o Brasil ainda dorme, ele não acordou. E que a indignação do povo é manipulada. O povo a meu ver, não aprendeu a gritar.