ESTADOS UNIDOS: Diretrizes acerca do acesso a sanitários para transgêneros contestadas por juiz

:: Diretrizes acerca do acesso a sanitários para transgêneros são

afrontadas por juiz do Texas ::

Erick Eckholm e Alan Blinder

22/08/2016

(Jornal New York Times)

Um juiz federal está se opondo a normas criadas pelo presidente dos

EUA, que dão instruções para que o acesso dos banheiros públicos das

escolas de todo o país fosse livre para alunos transgêneros (1). Reed

O’Connor, do Tribunal de Justiça do Estado, expôs um documento de 38

páginas em que se opõe que a ordem se cumpra e considera que a lei

apresenta contradições. O juiz, nomeado na gestão de George W. Bush

para a bancada federal, disse que ao não acatá-la garantiria aos

estados sua própria autonomia para legislar e que ceder a ela

significaria os mesmos estarem sempre sujeitos a quaisquer mudanças

decididas unicamente pelo Governo Federal e, com isso, perderiam sua

autoridade.

O caso repercutiu em ao menos doze estados americanos e foi

considerado uma vitória pelos conservadores na constante batalha a

respeito das regras para uso dos sanitários que o governo federal

implantou este ano. Os atritos gerados pela observação dos direitos

dos indivíduos transgêneros, especificamente o de usar livremente os

banheiros públicos de acordo com sua identidade de gênero, tem causado

incômodo e protestos das camadas mais conservadoras.

Obama afirma que tais direitos em escolas públicas e locais de

trabalho são garantidos por leis cujo objetivo é previnir a

discriminação. Os conservadores dizem que o presidente está se

intrometendo em assuntos locais, agindo de forma ilegal e pondo em

risco a privacidade e segurança de crianças em idade escolar.

A decisão do juiz impediria que o governo federal punisse escolas que

não permitem que estudantes transgêneros utilizem banheiros e armários

de acordo com a própria escolha.

“Estamos felizes com estas providências contra a mais recente

investida ilegal de Obama conta o país”, declarou Ken Paxton, Advogado

Geral do Estado do Texas. “Este presidente acha que pode reescrever as

leis que existem já há muito tempo e foram criadas por representantes

escolhidos pelo povo. Está ameaçando cortar verbas federais às escolas

para obrigá-las a ceder”.

Dena W. Iverson, porta-voz do Departamento de Justiça, disse que os

membros deste estão desapontados com a iniciativa do juiz e estudam

outras saídas.

Em uma declaração conjunta, diversas organizações que apoiam a

comunidade LGBT consideraram a atitude infeliz e prematura: “tal

providência de um único juiz que atua em uma só região não é capaz de

desfazer anos de esforço pelos direitos dos transgêneros de todo um

país”.

“O impacto desta decisão vinda do Texas não é ainda conhecido, mas

provavelmente será limitada”, dizem especialistas. Outras regiões do

país se colocaram a favor da opinião do governo federal e defendem que

trabalhadores e estudantes transgêneros tem seus direitos garantidos

por lei e nada será alterado, independente do que está acontecendo no

Texas.

A decisão também não afeta os procedimentos com relação a outros casos

no país. Em um dos mais conhecidos, no Estado da Carolina do Norte,

grupos defensores dos direitos civis e o Departamento de Justiça estão

em lados opostos devido a uma lei que obriga pessoas a utilizarem, em

prédios públicos, inclusive escolas, banheiros que correspondam ao

gênero apontado na certidão de nascimento.

Em outro caso polêmico, o Supremo Tribunal Federal dos EUA adiaram o

andamento do processo que obriga uma escola do estado da Virgínia a

autorizar um aluno transgênero a usar o banheiro masculino. O

prosseguimento se dará em breve, provavelmente durante o outono.

Independente de qual seja a decisão do Supremo, as leis vão sofrer

modificações. Se a votação do caso de Virgínia resultar em empate, a

Quarta Vara dará o voto final, mesmo não avendo garantias de que tal

decisão irá valer para o restante do país.

O processo aberto pelo Dr. Paxton no Texas acusa a gestão Obama de

abuso de poder, evidenciado, segundo ele, em vários pronunciamentos de

anos recentes, quando afirmou que a discriminação contra transgêneros

representa violação a leis federais da educação pública e dos direitos

do trabalhador.

Em maio, os Departamentos Americanos da Justiça e de Educação

(equivalente a Ministérios) enviaram documento às escolas públicas

informando que transgêneros devem escolher livremente quais sanitários

e armários usar e que o descumprimento da lei poderia resultar em

perda de verbas.

“Uma escola não pode exigir de alunos transgêneros que se façam uso de

locais que não condizem com sua identitdade de gênero, ou banheiros de

uso individual, uma vez que os demais alunos não tem esta obrigação”,

esclarece o documento, que foi condenado por grupos conservadores

imediatamente após sua publicação.

Setores governamentais de diversos estados e diretorias de ensino

procuraram meios através da justiça para evitar que o Governo Federal

pudesse conduzir estas ações.

A equipe de Barack Obama, ciente do que aconteceu no Texas e atenta à

oposição de pelo menos dez outros estados, explicou que as diretrizes

não são leis necessariamente, mas uma orientação de como sua

administração interpreta as leis que protegem os cidadãos contra

discriminação em função da orientação sexual. A mudança, porém, gerou

ameaças de processos às escolas incidentes, bem como os já citados

cortes de verbas federais.

Vários estados se pronunciaram, dizendo que estas alterações

promovidas pela presidência - batizadas por eles de “novo mandato” -

se mostram equivocadas, chocam-se contra leis locais e que não

conseguiriam se manter por meios legais. “Isso prejudica as diretorias

regionais de ensino em todo país, pois tirar-lhes a autonomia”.

De acordo com o Departamento de Justiça, o caso não se sustentaria

legalmente, pois os estados não tem provas de que sofreram danos. Para

o setor, trata-se de meramente de uma questão de opiniões diferentes.

Se o presidente resolvesse agir contra as escolas que se negam a

observar as diretrizes, mesmo com o apoio de grupos que defendem os

direitos dos transgêneros, inevitavelmente os estados e diretorias de

ensino iriam levar o caso à justiça. “Há um grande número de etapas

antes de um Estado perder verbas”, explica Jon W. Davidson, advogado

representante de um dos citados grupos. “O Governo de Obama teria de

mover ação contra o Estado, este responderia, o primeiro insistiria e

então haveria uma ou mais audiências para decidir se a interpretação

da presidência à lei é correta ou não”.

:: Notas::

1 - Transgeneridade ou transgenerismo refere-se à condição onde a

expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma pessoa é

diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento.

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- Link para texto original:

http://www.nytimes.com/2016/08/23/us/transgender-bathroom-access-guidelines-blocked-by-judge.html?_r=1

[tradução: Gabriel L. Trizoglio]