A placa do dia
Nacib Hetti
Durante muito tempo eu viajei para o Espírito Santo pela BR 262. Na região de Realeza havia uma placa do antigo DNER avisando ao motorista sobre uma “pista derrapante” logo à frente. Não sei se ainda está lá, mas ficou por uns vinte anos ou mais. Aparentemente nunca houve preocupação de corrigir o defeito da pista; era mais fácil comunicar a incompetência do administrador do que corrigi-la. Todos nós chegamos a conhecer alguém que morreu na triste “Curva da Ravena”, próxima de Belo Horizonte, onde, durante anos, havia uma placa de “curva perigosa”, só corrigida depois de dezenas de mortes.
Em Belo Horizonte também tem disso. Algumas avenidas e ruas receberam placas informando aos transeuntes e motoristas que ali não se deve transitar em momentos de chuva intensa, com riscos de enchentes. E olha que são avenidas novas em regiões recém “urbanizadas”. Na realidade as placas estão informando que os problemas de inundação não serão resolvidos. Pelo menos nos próximos anos.
Um vereador de BH sugeriu a instalação de placas nas regiões “perigosas” de Belo Horizonte, avisando o cidadão da necessidade de tomar os seus cuidados e evitar a região violenta. Observa-se que continua sendo mais fácil comunicar do que resolver. O correto seria o bom político propor um programa de combate à violência e a implantação de um policiamento ostensivo. Procurar saber as razões da violência e as formas de evita-la, mas é melhor do que espalhar placas.
A ideia do nobre edil tem caráter nitidamente discriminatório, colocando uma placa virtual na testa do morador da região que, a priori, é um perigoso a ser evitado, e dizendo ao visitante que ele deve mudar de passeio quando, no sentido contrário, vier um potencial delinquente. Fica a pergunta: você moraria na região “emplacada” informando que ela é de alto risco?
Se todos os riscos merecem um aviso, eu vou propor um caminhão de placas espalhadas pelo nosso querido Brasil. Seguem algumas propostas: a) Risco de baderna (na porta dos estádios de futebol); Risco de corrupção (porta do Congresso); Risco para a saúde (hospitais do SUS); Risco de desmatamento (toda a Amazônia); Risco de má formação (porta das escolas); Risco de juros escorchantes (porta dos bancos); Risco de incompetência (esplanada dos ministérios). Por fim fica a critério de cada leitor escolher uma placa para a porta da Polícia Federal em Curitiba.
Véspera de eleição é uma boa hora para o eleitor começar a colocar placas nos políticos, de acordo com a “qualidade” de cada um. Senão corremos o risco de receber uma placa de bobo.