Uma ocupação, necessariamente
Por: Joacir Soares ďAbadia*
Ao perguntar um ser humano: você está ocupado? E ele responder: Não necessariamente. O que se pode objetivar desta resposta? Em princípio se busca desvendar como é estar desocupado, necessariamente.
Intenta responder que seja por uma série de fatores: estar desocupado, mas sem querer se ocupar com uma conversa ou companhia que de repente não significa muita coisa pra um determinado momento; é como dizer: não estou ocupado, porém não quero me ocupar por agora; é uma forma de desviar o foco sem que o foco se perda; é estar presente sem que a presença seja sentida por completo ou afastada, de todo modo; uma ocupação que não tem como objetivo principal estar inteiramente voltado para um único ofício.
O ser humano pode estar desocupado, mas ao mesmo tempo se ocupa com as pessoas que preenche meu tempo.
O homem se ocupa de conversa e companhia, todavia. A conversa remete-lhe na dimensão humana e a companhia lhe faz viver no mundo rodeado de entes, existentes.
A conversa leva o homem à sua dimensão humana. Deste modo, quando se trata do diálogo se pensa logo em alguém pra responder ao outro estímulo. Contudo, o homem é recíproco a si mesmo, quer dizer, que ao mesmo tempo que inquire a respeito de um determinado objeto, pode de igual modo, responder ao que foi questionado. Destarte, o homem é presença para si mesmo. Oxalá! Deveras o homem ter esta consciência de se dialogar consigo mesmo e ser presença pra sua mesma solidão. Ocuparia mais com seu diálogo interior do que com seus questionamentos externos.
Já, por outro lado, a companhia no mundo faz com que o homem relaciona com tudo que esteja inserido neste universo. Estando no mundo o homem pode buscar companhia na sua cultura, no entanto, culturalmente falando, o povo é, sem dúvida alguma, um povo desprovido de cultura? Pensam, então os sábios, isso mesmo "nem todos querem cultura para seu povo".
Na ocupação com a conversa e com os existentes do mundo o homem é levado a perceber sua companhia, ele se vê fazendo companhia pra si mesmo, deixando-o ocupado, necessariamente, em síntese. O homem se ocupa dele mesmo, assim é, pois, entretanto.
*Presbítero, Filósofo autor de 9 livros, Especialista em Ensino Universitário, Membro do Conselho de Pesquisas e Projetos da UnB Cerrado e da Casa do Poeta Brasileiro de Formosa, escreve para vários jornais e revistas.