QUANTAS MARIAS EDUARDAS MAIS DEVEM MORRER?

A Rua do Prado, assim mesmo conhecida, sempre foi uma Rua viva. Mas, naquele 07 de fevereiro, fechou-se em luto. Era um sábado. Oito e meia da noite. Crianças brincavam à porta das casas. “Fui na Espanha, buscar meu chapéu, azul e branco da cor daquele céu...”

O modus operandi parecia costumeiro: Dois homens em uma motocicleta. Um deles desce atirando. O alvo? Alguém que morava ali. Pá, Pá, Pá... Quem ouviu os estampidos, deve ter pensado: é acerto de contas. Mas, desta vez, a desgraça foi maior.

O “desafeto”, desesperado, usara um daqueles inocentes como escudo. Mesmo assim, o pistoleiro não se intimidou. Pá, Pá... - E a menina caíra, envolta no próprio sangue. Um disparo na cabeça, um outro no tórax. De nada adiantou o socorro. O fim já estava sacramentado. Era ela e Deus, agora.

Horas depois, a polícia anunciou a prisão do acusado. E todos correram para a delegacia. “Justiça!” “Justiça!” A imprensa tratava de informar à sociedade; e a cada fato novo, mais ódio e revolta: “Torturem-no!”; “Matem-no!”. E imagino que isso não resolva muita coisa. O algoz é talvez o diabo, mas ele não é o mal. Merece, sim, o rigor da lei. E, para nós, a lição: o que mais deve acontecer para entendermos que estamos perdendo a guerra contra o crime? Quantas Marias Eduardas ainda devem morrer? Mais da metade dos crimes acontecem por motivos fúteis. Temos que matar o criminoso que vive dentro de nós.

Quem tinha lágrimas chorou a morte da criança. E nunca haverá conforto. Apenas sete anos de idade. Se serve de consolo... ela não deve ter sentido dor; foi quase arrebatada. Uma flor, tolhida. Dor, indescritível, deve estar sentindo os seus. O pai perdeu um coração; a mãe também perdeu o dela – E para aqueles que vivenciaram aquilo, uma comoção correspondente.

Que nunca esqueçamos este dia 07 de fevereiro; pelo contrário, que façamos dele um sagrado: não apenas de oração, mas de indignação.

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A rua do Prado, em Patos, Paraíba, rasga a cidade em linha reta e finda numa praça bucólica, onde à frente repousa a igreja de nossa Senhora da Conceição.. “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais, pois o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas” (Mateus 19).

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 01/08/2016
Reeditado em 11/04/2023
Código do texto: T5715722
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