Master Chef, Bake off Brasil e a cultura da pressão.

O que seria do programa do Ratinho, ou da Christina Rocha (será que estão no ar ainda?) sem os insultos e as brigas? São os ingredientes essenciais para garantir boa audiência. E imagino que nos episódios em que não acontece agressão espontânea, é favor ir atrás de figurantes que a simulem, em nome dos altos pontos. Nos reality shows de comida, o golpe baixo de caça-ibope vem de forma um pouco diferente e, pensando sob a perspectiva da violência, até injusto, pois o agredido não tem o direito de se defender. Quanto mais revidar. Henrique Fogaça, Érick Jacquin e Fabrizio Fasano Jr. aplicam seus coices de mula e as vítimas, os participantes, aceitam em silêncio. E ao final ainda dizem coisas como "obrigado, senhor!".

Lembro de outros jurados turrões, de programas Caça-Talento de outras modalidades. Quem é que não se lembra das bofetadas verbais do Carlos Eduardo Miranda naquele musical que já não lembro o nome? Será que foi o Ídolos? Bom... o nome pouco importa, para mim são tudo a mesma coisa.

Sempre tem um que dá (ou alguns que dão) patada. É o que o telespectador gosta de ver. Pode ficar chateado, pode ficar até indignado com o ato rude do jurado, mas por continuar assistindo, vai atendendo aos anseios dos idealizadores de tais programas. São os coices destas mulas que dão o gás na audiência. Não são todos, porém, que agem assim. Vejam, as juradas do Bake Off Brasil e do Master Chef, mesmo quando têm uma crítica a fazer, não são estúpidas como seus colegas.

É importante que um chefe chame a atenção de funcionários que erraram e que possam ter prejudicado o trabalho, mas quando se parte para a rudeza, o chefe está errando tanto quanto o funcionário. Ou até mais. Não importa se os sujeitos mencionados são profissionais respeitados mundialmente. Ao agir como agem, perdem toda credibilidade.

Provar e não gostar de um prato servido por aqueles concorrentes pode não ser bom. Mas ruim mesmo, desagradável, o que me faz me sentir mal é a enxurrada de palavras pesadas e desnecessárias a eles dirigida.Aliás, o prato que foi desaprovado pelo chef bem que poderia ser oferecido a outros, para que também experimentassem. Ofertado a pessoas na rua, por exemplo, num quadro ao vivo do programa, sem truques. Para ver se aquilo que o chef falou é idêntico ao que diriam várias pessoas ou se se trata somente do gosto dele.

Aliás, e estes jurados? Não erram mais? Só porque têm longos anos de experiência já não fazem mais pratos que desagradam aos outros? Não acredito nisso.

Com o tempo, a TV a cabo baixou de preço e chegou às camadas populares. Não sei se foi um passo planejado, visando este novo público, mas creio que este discurso da pressão é aquele que as grandes corporações adoram: o mundo é exigente, o patrão é exigente, a clientela é exigente e tem sempre razão, por isso, os jurados dos citados reality shows têm também que ser durões. Entendeu o raciocínio? Trata-se daquele ainda incerto embrião do "No Limite", de quase vinte anos, que provou ter sido e estar sendo bem-sucedido no que diz respeito a fazer o telespectador humilde acreditar que o mundo é competitivo, que viver sob pressão é algo normal e que se ele vive situação parecida em seu trabalho, não pode reclamar. Diz a televisão - doutrinadora da vez, mesmo em tempos de internet - que a vida é assim. Não é. São estas atitudes, as que muitos consideram normal, que estão levando as pessoas à depressão, ao stress, a um mundo ainda mais doente e afetando até mesmo pessoas tidas como mais esclarecidas, como o psicólogo(a), coordenador pedagógico(a) ou o advogado(a) que concorrem em tais programas.

O francês chato recebe legendas em sua fala, apesar de trabalhar sabe-se lá quanto tempo na América Latina. Tão exigente com os participantes e ninguém exigiu dele que melhorasse o português para participar do programa. Uma piada. Só menos sem graça quando o Fasano, tão sério e tão crítico quase o tempo todo, faz aquelas caras nos comerciais dos produtos que eles anunciam. Mais infeliz, impossível. E eu achava que os comerciais previsíveis e pouco criativos das margarinas era o pior que as marcas podiam oferecer. Não era. O chef-propaganda nos deu a prova.

Voltando a falar de Jacquin, por mim, podia voltar para a França levando com ele toda a clientela exigente, a maior responsável por toda esta deplorável situação de concorrência irracional. Faria um favor indo embora e levando consigo esta corja que compartilha o mesmo discurso e comportamento de desrespeito.