Escotismo e a construção de um mundo melhor
Escotismo e a construção de um mundo melhor
Publicado no Correio Riograndense de 15/06/2016
Encontrei, outro dia, na porta de um supermercado um grupo de escoteiras e escoteiros, bem fardados, orgulhosos e felizes. Faziam o bem: - recolhiam víveres para distribuição aos mais necessitados. Fiquei feliz com o encontro. Como antigo escoteiro disse para comigo mesmo: - preciso escrever sobre isto. Nós, apesar de poucos, ainda existimos.
Não são apenas as iniciativas publicas que forjam uma nação. Pequenas iniciativas da cidadania também contribuem para esta missão que é responsabilidade de todos.
Como despertar na criança cidadã a indispensável autoconfiança nas potencialidades da sua individualidade? Como fazer florescer a necessária compreensão da solidariedade social como virtude essencial para o seu aperfeiçoamento?
Criado na Inglaterra, em 1907, por Lord Baden Powell, o escotismo é um movimento educativo complementar à educação familiar e a formal, voltado para os jovens, incentivado por adultos. Em um século de atividades, mais de um milhão de pessoas participaram do movimento em nosso país.
O caminho encontrado pelo escotismo é simples: dos oito aos vinte e dois anos de idade, organizar e disciplinar a convivência democrática e fraterna de jovens, possibilitando a descoberta das suas potencialidades orientados por valores tais como a honra, a paz, a cooperação fraterna com os semelhantes, o respeito à natureza, a reverência ao Criador.
Convivência que se materializa no contato com a natureza, aonde crianças e jovens conduzem as atividades das suas pequenas comunidades. O cozinhar suas refeições, o dormir em barracas, o navegar em pequenas embarcações, o aprendizado dos primeiros socorros, a guarda noturna do acampamento onde a garotada percebe o que é ser responsável pela tranqüilidade dos seus companheiros, a intimidade com a beleza esclarecedora da natureza, são alguns aspectos que fascinam uma geração acostumada a presenciar tudo funcionar com botões e controles remotos. Uma geração que tem na família, cada vez menor e mais fragilizada na sua estrutura, seu único marco de referência de convívio humano. Uma geração que pouco encontra na escola este aprendizado com gosto de aventura. É o desenvolvimento pessoal percebido como resultado da interação honesta, não competitiva, com os companheiros do grupo. É a convivência comunitária despertando a convicção da necessária solidariedade entre os homens e mulheres, na perspectiva da construção de uma vida justa e feliz.
Ao lado de outras iniciativas da sociedade, o escotismo pode colaborar, neste momento confuso e complicado em que vivemos, na construção de um novo momento civilizacional. Povos sem praticas e crenças morais são povos que avançam na história sem rumo e sem objetivos, como turbas perdidas e decadentes.
Eurico de Andrade Neves Borba Borba.
75 anos, escritor, ex Professor da PUC RIO. ex Presidente do IBGE, ex Secretario Geral Adjunto do MEC, ex Presidente do Conselho Nacional da União dos Escoteiros do Brasil, aposentado mora em Ana Rech, Caxias do Sul,, RS.