Censura nunca mais. Será ?
Na época da ditadura, os detentores do poder tinham em suas mãos uma arma poderosa de inibir tudo que era considerado contrário, subversivo e obviamente o que eles entendiam como nocivo à sociedade, refiro-me à Censura, prática para muitos monstruosa de frear o pensamento, que deve ser livre e coibir a criação cultural, pois entendiam que nestas criações, sublimarmente haveria o aliciamento da sociedade à informação, o que poderia suscitar interesses. No entanto, a democracia chegou e com ela a liberdade. Passamos a por em prática a imaginação sem a preocupação de sermos censurados, cortados, apagados ou que nosso trabalho fosse arquivado. Falamos e cantamos o que vem na cabeça, escrevemos, criamos, gritamos, xingamos, discordamos, concordamos, acusamos, julgamos e por aí vai. Mas e o senso de limite, onde fica? Os ditadores censuravam os que faziam com suas músicas ou peças de teatros ou filmes, incitação à liberdade, produziam algo que pudesse melhorar a sociedade, o que não era bem aceito nos tempos de perseguição. Eu pergunto: E hoje, quando ouvimos algo que nítidamente faz apologia ao crime organizado, ao roubo, à prostituição infantil, ao estupro, às drogas e à corrupção em todos os níveis, o que temos como arma para inibir e frear o avanço daquilo que pode muito bem destruir a própria sociedade? A resposta é: não temos nada, e depois creditamos os crimes ocorridos à influência do que se ouve, do que se assiste e do que se lê. É bom lembrar que a ditadura, na instituição do AI5, usando os seus conceitos, conseguiu censurar obras de nomes como Zuenir Ventura, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Carlos Lyra e muitos outros. E o que estes artistas fizeram ? Simplesmente nos deram obras inesquecíveis, como por exemplo: Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré; O bêbado e o Equilibrista, de Audir Blanc e Apesar de Você, de Chico Buarque. Agora reflita: se a ditadura, mesmo com os seus ignorantes agentes, conseguiu censurar obras magníficas, como então explicar, considerando o alto poder crítico de nossos dias, a manutenção de tanta baixaria tocada nas rádios, com letras puramente sem nenhum conteúdo didático ou instrutivo, que não levam a nada ou melhor, levam a sociedade a agir contra ela mesma. É simples: nos tornamos adeptos e seguidores da cultura do vale tudo e permitimos nos transformar em cobaias do conceito de que, liberdade é bom até para ser infeliz.
Mário De Oliveira