Complexo de vira-latas
O presidente uruguaio e atual dirigente da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas, bloco que representa 12 nações do continente) Tabaré Vásquez, considera que existe um “golpe” em andamento no Brasil, por conta do processo de impeachment que sofre a presidente afastada Dilma Rousseff. As mesmas opiniões demonstraram os governantes dos demais países “bolivarianos” (uma forma de solidariedade aos “hermanos” petistas), que sem pudor algum resolveram atacar a soberania da maior nação da América do Sul. O mandatário chavista da Venezuela (onde falta até papel higiênico, por conta da gravíssima crise econômica) convocou de volta seu embaixador, supostamente uma retaliação explícita à decisão do Congresso Nacional brasileiro.
No ano de 2013 a blogueira cubana Ioany Sánchez (crítica ferrenha da interminável ditadura castrista na ilha caribenha), chegou a ser recebida no plenário da Câmara dos Deputados, causando alvoroço entre os parlamentares, apesar de não exercer qualquer influência política. Num passado de triste lembrança, o então ministro da Fazenda Ciro Gomes classificou como otário o consumidor que pagou ágio na aquisição de veículo novo, ideia reforçada pelo ex-presidente Fernando Collor, quando equiparou os automóveis brasileiros a “carroças”, em relação aos fabricados no exterior (o que não deixa de ser verdade, mesmo nos dias atuais). Já na Europa, brasileiros são discriminados ainda nos aeroportos e até deportados, em muitos casos, sem comprovada motivação. Outros fatos poderiam exemplificar essa suposta condição de inferioridade do brasileiro, como aquele piloto comercial norte-americano, exibindo o dedo médio ao ser fotografado no aeroporto pela polícia (um caso ridículo de retaliação contra medidas austeras de segurança daquele País). Como “punição”, foi encaminhado a uma delegacia para “esclarecimentos” e depois liberado. Até em sua terra natal seu escracho lhe traria sérias e merecidas consequências.
A constatação é que o brasileiro apresenta comportamentos de subserviência injustificada, mostrando suas fragilidades a todo o momento. Até parece que depois dos 2 a 1 em 1950 e dos 7 a 1 em 2014 (o placar poderia ter sido bem mais elástico para os alemães) a coisa piorou um pouco. Mas por quais motivos agimos dessa forma? Por que permitimos o estabelecimento dessa propensão em dissolver lenta e continuamente a identidade brasileira? Por que veneramos (até inconscientemente) o endeusamento dos Estados Unidos como modelo de sociedade? Por que deixamos de valorizar nossa cultura, tão rica e diversificada, relegando a um plano secundário as conquistas e os avanços desse povo sofrido? Por que permitimos que os ianques nos apontem seus dedos sujos de senhores feudais e nos transformem em vassalos do capitalismo? Por que assistimos placidamente (sem esboçar reação à altura), governantes e mandatários meterem o bedelho em decisões soberanas de nosso País, enquanto senadores brasileiros são humilhantemente escorraçados por Nicolás Maduro (aquele mesmo do papel higiênico...), ou nossa maior estatal (outrora o orgulho nacional) sendo espoliada (nacionalizada) pelo nativo boliviano (aquele que planeja permanecer em Miraflores indefinidamente) Evo Morales?
Talvez as respostas não sejam compreendidas plenamente por esse povo honesto e trabalhador, que carrega diuturnamente a preocupação em levar para sua família, o pão de cada dia. Somos gente de índole pacífica, ordeira e naturalmente pouco afeita às complexidades das relações sociais. Preferimos deixar de lado as discussões acaloradas em que a subjetividade prevalece, optando por debates sobre temas concretos, palpáveis, acessíveis ao cidadão comum. E apesar de todos os problemas, encontramos força para seguir adiante, mesmo aos trancos e barrancos. Com ou sem complexo de vira-latas