RUÍDOS COMUNICACIONAIS NA PÓS MODERNIDADE
Imagine-se numa sala de aula. Você está aguardando sua matéria favorita começar. Vamos supor que seja aula de educação artística, e na semana passada a professora avisou que a turma toda faria um trabalho de pintura corporal emocionante. Um tipo de educação experimental a qual ela quer submeter o corpo discente. De repente, entra na sala a coordenadora e avisa pra vocês que uma outra professora, substituta, irá dar aula nesse dia, pois a professora real fraturou a perna. Como de costume, ainda será feito o exercício, mas de acordo com as técnicas e metodologia de outra colega de trabalho. Quando a professora chega na sala, você se surpreende. Imagine só, a professora não é da mesma cidade que você. Pra piorar, nem do mesmo país. A moça é russa, recém-chegada ao Brasil, e não fala nem um pingo do seu idioma. Tudo que ela falar na sala de aula, será incompreensível, salvo em caso de alguém também dominar esse idioma. A comunicação é lesada e nesse momento, e a essa subtração informacional chamamos ruído.
No caso retratado, a falta de interação entre emissor receptor encaixa-se no perfil de ruídos semânticos, aonde a palavra em si não é compreendida em seu significado. Isso pode acontecer quando não se fala literalmente “a mesma língua”, em casos de pessoas que jamais tiveram contato anterior com uma língua nativa e se veem encurralados. O ruído semântico acontece também quando não se domina o significado de uma palavra. Por exemplo, um médico diz a um paciente, que ele sofre de problemas esclerose lateral amiotrófica. Até que ponto a mensagem é recebida conforme emitida? Apenas se o paciente em questão possuir conhecimentos em medicina avançada, caso contrário o médico deverá explicar com outras palavras como se comporta e o que é essa doença.
Não apenas ruídos semânticos, mas uma enorme gama de ruídos são encontrados juntamente a demais barreiras ao longo de todo processo comunicacional. As principais, além da semântica, são os ruídos físicos, ruídos fisiológicos e ruídos psicológicos.
Os ruídos físicos são de origem externa. Ou seja, nada mais do que sons aleatórios presentes dentro de um espaço que interrompem e dificultam o processo informativo. Por exemplo, se duas pessoas conversam no telefone, e, inesperadamente, trabalhadores na casa ao lado começam a bater marretas, a comunicação fica dificultosa. Não se ouve muito bem o que é dito e às vezes o melhor caminho é realmente desligar o telefone. Já os ruídos fisiológicos são encontrados no processo biológico do próprio receptor ou emissor. São elementos físico-corporais, como por exemplo, uma dor de cabeça forte, que impede o bom entendimento de uma determinada informação. Ruídos psicológicos, por sua vez, é cada entrave criado dentro da psique, impedindo que o ato da comunicação seja eficaz como deveria.
No mundo pós moderno, as barreiras se tornam inúmeras. Não só a velocidade com que a informação trafega livremente pela teia comunicacional interativa do século XXI, mas a maneira como é recebida e decodificada às vezes danifica o processo informativo. No atual processo social que se vivencia, a velocidade com que as relações pessoais se enovelam e depois se quebram confirma o individualismo do século.
Embora haja acesso ilimitado a todas as redes do globo, as pessoas de um modo geral tem se refugiado cada vez mais em sua própria espécie de “globo”. A relação oral que encontramos nos primitivos métodos comunicacionais dos homens e mulheres pré-históricos, com a passagem narrativa e ancestral de seus costumes, a auto-cooperação no que consiste legitimar a sobrevivência de uma tribo, a divisão de tarefas, tudo isso se perdeu.
Hoje a humanidade depende de uma relação com os meios de comunicação, e muitas vezes não pode sequer competir com sua imponência. Não só os meios convencionais dos tempos modernos, como jornal, o rádio; o início da era digital trouxe consigo a possibilidade do conhecimento infinito. Não obstante, essa possibilidade, que há alguns anos atrás seria considerada impossível, esbarra em problemas de comunicação entre o emissor e receptor.
O individualismo do século explica por parte esse fenômeno. Mas por outro lado precisa-se compreender a dificuldade encontrada no que consiste aproximar os tipos de comunicação. O mundo incita as relações grupais, sociais, porque contém uma grande importância quantitativa enquanto processo midiático social. Mas é focar no processo grupal que ocasiona um lapso no sentido original. A comunicação precisa ser focada dentro de um parâmetro intrapessoal, pois cada ser humano é uma visão de mundo em si. Sendo a linguagem um único meio que encontraram pra se comunicar, é a linguagem e unicamente ela, o único termo em comum em relação ao processo geral.
Por isso, para encorajar a aproximação entre emissor e receptor é preciso aprofundar-se na semiologia morfossintática dos símbolos, signos e estruturas. A teia que mantém unida a interação entre as partes do todo, se não for cuidadosamente trabalhada, visando a melhoria dos processos de convívio e linguagem para uma comunicação efetiva, pode até vir a se romper. Isso significa dizer que o processo de comunicação iria sofrer um lapso. A comunicação estaria prejudicada.
Numa tentativa de diminuir as diferenças comunicacionais entre os povos do globo, Ludwik Lejzer Zamenhof (1859-1917) criou em 1887 o que ficou conhecida como a língua artificial mais falada do mundo. Sua intenção era criar uma língua de fácil aprendizagem, que servisse como língua global, para que toda a população mundial pudesse falar “a mesma língua”. Essa iniciativa é de grande utilidade, e é uma língua usada até hoje, em viagens, turismo, literatura, e comunicações em geral e também há evidências de que auxilia no aprendizado de demais idiomas.
Isso é importante para recriar os processos interacionais entre os seres de todo o mundo, já que, muito embora as distâncias físicas tenham sido encurtadas, as barreiras emocionais ainda são um grande desafio a lidar no mundo pós-moderno.