Ocorreu hoje, em São Paulo, a manifestação dos taxistas contra a regulamentação para os aplicativos que pretendem lucrar explorando o serviço de táxi paralelo. A proposta é nebulosa e nasceu de um vereador do PSDB, partido sempre favorável às iniciativas neoliberais e que está atrelado a derrubada da Presidente Dilma. Aprovada em primeira votação, me parece inevitável sua implantação definitiva. Com apoio da mídia corporativa e de setores da sociedade que não primam pela boa informação, o Uber foi a balela que capturou até as nossas supostas mentes brilhantes. Apoiado pelo mesmo grupo de comunicação que patrocina o atual golpe à democracia, o aplicativo já possui quase o dobro de reclamações, em sites de defesa do consumidor, do que os aplicativos que trabalham exclusivamente com táxis legalizados. Não conhecia essa informação? Não se preocupe, ela não é divulgada.
 
Já li ex-ministro de educação, colunistas da zona sul carioca, leigos jornalistas renomados, palpiteiros de esquerda, magistrados e boa parte da Casa Grande, todos eles defendendo o aplicativo de carona remunerada com um fervor religioso. Alegam a diferença de qualidade, desconhecem a pior qualidade indicada nas estatísticas que constam disponíveis em portais como o “Reclame Aqui”. Precisei testemunhar referências intelectuais se queixando do tipo de conversa dos taxistas e elogiando o bom papo do motorista Uber (que muitas vezes é um ex-taxista frustrado). A Prefeitura de SP chegou a cogitar a lei da mordaça para os profissionais de táxi. Ou seja, os mesmos que defendem a democracia, o direito a dignidade dos desfavorecidos, humilham e rejeitam um trabalhador que não lhes demonstra o servilismo que esperam. Personalidades que eu admirava, exilei-as da minha leitura diária, não acredito em democratas seletivos, maliciosos na manipulação daqueles que os seguem.

Entendo a democracia como um direito coletivo que se reflete nos direitos individuais. No entanto, os neoliberais e socialistas de fachada, que promovem empresas como o Uber, se esquecem que a livre concorrência deveria ser pautada por igualdade de condições e não por privilégios baseados na falácia do Estado mínimo.

Caso os taxistas não sejam exterminados por corporações com propósitos questionáveis, guardo a certeza que o tempo será o senhor da razão. Enquanto isso, cidades como o Rio, que já se afogam num trânsito caótico, que caminham para uma poluição ainda maior, agora contam com mais um inimigo à qualidade de vida homologado pela justiça: as mentiras da tecnologia.

 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 27/04/2016
Reeditado em 28/04/2016
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