Uma questão de respeito
As expressões de desprezo pelo semelhante acompanha o ser humano em sua trajetória de convivência em sociedade. Muitas dessas atitudes terminam em tragédias, quando as partes envolvidas se deixam levar pela emoção do momento, ignorando preceitos básicos de civilidade e respeito. Os fatos desse tipo ganham notoriedade quando envolvem personalidades públicas como políticos, artistas, esportistas, milionários excêntricos e todos aqueles que com frequência, acabam metidos em confusões.
Casos recentes divulgados pela mídia ensejam considerações das mais variadas possíveis. O ator José de Abreu “presenteou” um casal de clientes de um restaurante com uma cusparada por (segundo sua versão) ter sido ofendido com xingamentos relacionados ao seu posicionamento político, caracterizado pelo apoio explícito ao ex-presidente Lula, à presidente Dilma Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores.
Ainda na área da política, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), naquela tumultuada sessão da Câmara dos Deputados em que se votava a admissibilidade pelo prosseguimento do processo de impeachment da presidente da República, optou por tomar a mesma iniciativa contra o colega Jair Bolsonaro (PSC-RJ), sem se importar com a transmissão ao vivo.
O outro fato relevante envolve também duas personalidades políticas. Durante um jantar, a Ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB-TO) lançou uma taça de vinho no rosto do senador José Serra (PSDB-SP), por ter sido classificada pelo parlamentar como “namoradeira”, termo que julgou “infeliz, desrespeitoso, arrogante e machista”.
Por mais que se tente buscar justificativas para explicar esse comportamento, a conclusão final nos casos citados é unânime: faltou respeito. Perdeu-se totalmente a noção de apreço, de deferência, de civilidade. Passamos a tratar o outro quase como um inimigo, simplesmente porque não concordamos com algumas de suas convicções. Esquecemos por completo de nossas próprias fraquezas, nossas carências, nossos desatinos. Despejamos nosso rancor naqueles que simplesmente ousam defender suas posições, ignorando por completo os conselhos recebidos no seio familiar. Antigamente os pais costumavam ensinar os filhos a pedirem a bênção antes de dormir, ou quando recebiam visitantes em casa. Hoje isso não acontece mais, pois os pequenos geralmente estão mais interessados em atividades tecnológicas do que ouvir conversas de adultos. Muitos pais terceirizaram a educação dos filhos, deixando-os livres para que escolham por conta própria os caminhos a seguir. Para aqueles que ainda fazem questão de manter as tradições de um lar baseado no amor cristão e no respeito mútuo, a manutenção do diálogo é fator preponderante para a formação moral dos filhos. Isso inclui algumas restrições, imprescindíveis para a lapidação do caráter do indivíduo. A ética, a moral e o respeito somente serão preservados se o círculo familiar se mantiver estratificado, de acordo com os preceitos elementares que regem uma sociedade.
A falta de respeito não é “privilégio” somente dos políticos, milionários ou famosos. Em seu cotidiano, o cidadão comum também apronta das suas ao “furar” as filas intermináveis, ao ignorar o assento preferencial nos coletivos, ao utilizar o estacionamento exclusivo para deficientes e tantas outras atitudes quanto imagináveis. Nem é preciso seguir à risca os ensinamentos de Jesus oferecendo a outra face, diante de uma agressão. É só saber ouvir um pouco mais, contar até dez antes de tomar uma atitude impensada, ter um pouco mais de paciência. Sofremos de um mal aparentemente incurável: a falta de educação, que se traduz em falta de respeito. Essa educação, a que haveríamos de carregar diuturnamente, não se ensina na escola. É talhada desde a mais tenra idade, com generosas doses de amor, carinho e principalmente, exemplos vivos de respeito. Pena que, ultimamente, essas coisas simples, mas de valor inestimável, caíram em desuso.