VIOLÊNCIA E OS LEGISLADORES
Para odiar bandido eu não preciso perder um bem adquirido com muito suor, não preciso ter uma filha estuprada ou um filho morto em assalto. Para mim já é o bastante saber que isso acontece com os outros e imaginar que pode acontecer comigo. Fico indignado em nada poder fazer e ver tantas pessoas indiferentes, como se aguardassem primeiramente a sua vez. Afinal, para que chorar a dor dos outros?
Casos e mais casos ocorrem o tempo todo e acabam sendo apenas mais um, em meio a uma violência com a qual nos acostumamos e aceitamos como se inerente a qualquer sociedade. O fato de os marginais também serem humanos, a óbvia recusa de suas famílias de os ver sofrer as penas almejadas por suas vítimas, o medo destas de se complicarem e até de irem para o inferno, o trabalho quase em vão da Polícia, as mãos atadas dos juízes, a inércia dos deputados federais, as leis de proteção, as brechas das outras e a própria Constituição argumentam em favor da complacência.
Será que aqueles que fazem e podem alterar as leis relacionadas à criminalidade são pessoas honestas? Pessoas honestas de verdade não aceitam a realidade de serem presas fáceis nas mãos de predadores, de olharem para o carro na garagem e pensarem que é seu até um ladrão tomar, de não poderem passear na praça com seus filhos, de estudarem e trabalharem para uma vida melhor, enquanto vagabundas só aguardam usufruir das suas conquistas. Pessoas honestas de verdade são certamente o que não há em maioria entre os congressistas, pois se assim fosse teríamos uma maioria indignada, capaz, se preciso, de rasgar a Carta Magna, em prol de um país melhor para os cidadãos de bem.
Ao contrário do que dizem, nossos verdadeiros representantes no poder não nos representam também em caráter, porque pessoas honestas de verdade não entram na política pensando mais em si mesmas e dificilmente conseguem uma eleição importante apenas por sua lisura. A seleção natural de desonestos no poder já começa com o fato de que boa parte das pessoas retas são enojadas da política, infelizmente. Os poucos que se acham por lá, sem quórum, não têm poder significativo de mudança.
Pelo fim da violência, esses legisladores sabem que até mesmo o presidente da República pouco pode fazer sem a intervenção deles nas leis. Estas que, por sua vez, parecem elaboradas sob medida para manter seus criadores imunes e, por tabela, permitem a compra de tão vazada Justiça por aqueles que podem pagar. Brechas à parte, eis uma Lei moderninha que não se encaixa a uma cultura quase medieval, por tanta ignorância, sem dar expectativa de se fazer valer frente à violência mesmo em longo prazo.
A Lei é bondade que alimenta o mal, muita tolerância hipócrita, já que não a ela é que recorrem alguns de seus criadores quando se veem vítimas da violência. Devem achá-la branda demais.