Trabalho, felicidade e gratidão

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Hoje estive a pensar sobre o trabalho, após observar um livro de Alain de Botton, filósofo suíço da atualidade, chamado “Os prazeres e desprazeres do trabalho”. O trabalho nos sustenta, nos ocupa, nos dá prazer. Muitas pessoas falam sobre o trabalho como um meio sofredor, mas vejo que cada vez mais o que antes era tripalium, um instrumento de tortura, ou escravidão, está cada vez mais presente em nossas vidas. Essa práxis, ou uma prática de transformação da natureza pelo trabalho, nos faz crescer e evoluir. Muito além da utilidade, é mesmo um meio de se obter felicidade. Passamos a maior parte do tempo entre o sono e o trabalho. Hoje nos dedicamos também ao estudo, que não deixa de ser também um trabalho intelectual. Se engana quem acha que estudar é ócio, ou é pouco rentável. Tudo que aprendemos resulta em alguma vantagem, seja direta, seja indireta. Isso pode se referir até a coisas como autoajuda, esoterismo, sabedoria antiga. Tudo colabora a um progresso. Mas o importante é a gratidão. Quantas pessoas trabalharam para agora eu escrever aqui, nesse computador? Muitas, desde as que montaram as placas, as que desenvolveram programas, as que fizeram embalagens, as que montaram máquinas, que fizeram o teclado e tantas outras. Não importa a função ou cargo, todas as pessoas são igualmente importantes. Formam uma teia, um Todo de inter-relação. Assim as coisas são holísticas, e o trabalho ganha cada vez mais uma importância, não mais sendo fixo, e nem preso a um lugar. Cada vez mais trabalhamos em computadores, e assim deixamos de ter de ficar em um parque fabril. A fábrica se torna cada vez menos o locus para o nosso trabalho. Também o comércio ganha cada vez mais com o meio eletrônico. E o café, a alimentação, por tudo devemos ser gratos a centenas de pessoas que trabalham para que vivemos com mais prazer e felicidade.

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Fuga do Mundo

 
Por outro lado, nem o trabalho, nem o estudo deve ser uma fuga do mundo. Antes se usava disso através do poder religioso, para se justificar alguns fracassos. Uma fuga mundi. A isso dedicou Luiz Felipe Pondé em seu livro “A Era do Ressentimento”. Isso se refere principalmente a filosofia dos estoicos, que defendiam essa imperturbabilidade. Penso que não devemos fugir do mundo, mas aperfeiçoá-lo de acordo com nossa potencialidade. Mas temos essa potencialidade? Claro que temos. Cada um de nós tem talentos e poderes que nem imagina. Nossa força espiritual, nossos guias, nosso anjo da guarda, Cristo interno. Assim não se está destinado ao fracasso. Podemos enriquecer sem culpa, podemos ser famosos, e assim por diante. Há um preconceito com quem se desenvolve e tem prosperidade. Os poderosos, sejam governantes ou sacerdotes, querem que nos arrependamos, que sejamos serviçais. Isso se direciona principalmente para o consumo e para certos vícios. Hoje as redes sociais, chocolate, estudos, e muitas coisas estão sendo vícios para se fugir do mundo. Mesmo o trabalho. Trabalho em excesso é uma fuga. Pensaria Freud que tudo isso é uma sublimação da libido. Quem tem as coisas bem resolvidas não precisa fugir. Não precisa se alienar. E o mundo tem muita felicidade e prazer ao seu dispor. Uma vida retirada também é uma escolha, mas meio incompatível com nossa vida urbana, pós-moderna e que exige socialização. Na vida tudo são escolhas. Apenas a ilusão faz com que as pessoas se aprisionem em compulsões e visões religiosas limitadoras. Libertar é possível, e o mundo tem a sua divindade. Fugir do mundo não é necessário, mas sim usar da Vontade para manipular o mundo, formando algo belo e positivo. As pessoas nem imaginam o paraíso que está a seu dispor, aqui e agora. Somente o autoengano acaba por limitar tanto, por exigir uma fuga do mundo, uma redução da vontade de viver.