O ÓDIO E O PERDÃO
(Por Alexandre Coslei)
Desde o ano passado, venho acompanhando o drama que assola os dias e noites dos taxistas. Muitos passaram a viver sob estresse e pressão emocional ao abrirem os jornais, ouvirem o rádio ou ligarem a TV. Na verdade, a inquietação veio não veio somente pela concorrência desleal e predatória do Uber, mas a angústia dos motoristas é consequência do ódio irracional que passou a ser dirigido contra eles através de colunas, publicações na imprensa e comentários públicos. Quem observa o linchamento sem trégua, imagina que a humanidade encontrou a encarnação do demônio na Terra. Quem promove a onda de humilhação e preconceito não faz distinção entre bons e maus, quer impor o extermínio de toda a classe, a substituição do que já existe por uma mazela tecnológica que não demonstrou realmente o que pretende, mas pela indiferença com que trata as leis não deveria inspirar nenhuma confiança na sociedade. Já li frases do tipo “taxistas que morram de fome”, “bandidos”, “máfia”, “trogloditas”, “sujos”, etc. Nenhum dos detratores leva em conta os abnegados profissionais que também integram a categoria; não pensam que entre eles existem pais de família, viúvas, muitas pessoas honestas e solidárias. Não, não consideram nada disso. Por que considerariam? Os fundamentos do ódio não exigem racionalidade. Quem difama e afronta os taxistas não quer ter nenhuma boa história para contar. Quando conhecem alguma boa história, não a divulgam. Preferem expor as experiências ruins, reais ou não.
A lista exposta das situações negativas desses passageiros em fúria é repetitiva, o que causa imediata desconfiança sobre a veracidade. É como se desfiassem de propósito um roteiro de histórias ruins, apimentadas pelo componente histriônico que potencializa a maldade. São sempre as mesmas narrativas com poucas variantes, falam sobre taxistas que escutam rádio evangélicas, taxistas que não quiseram levar aqui ou acolá, taxistas de carro sujo, taxistas de carro velho. Muitas vezes parece que todos pegam o mesmo táxi, dirigido pelo mesmo taxista. Por isso, é óbvio que a campanha se baseia em motes mentirosos, que ganham exageros para contaminar a opinião pública e favorecer ao concorrente desconhecido. Usam casos e noticiários seletivos, que mostram só um lado.
No entanto, quando conversamos com pessoas sensatas, que não compartilham das extravagâncias e da discriminação claramente manifestada pelos furibundos, passamos a descobrir as boas histórias, nos é revelada a existência de profissionais dedicados, pessoas que fazem do trabalho árduo no trânsito uma experiência positiva de interação social. A sinceridade de quem escolhe contar sobre os bons taxistas emociona e prova como a injúria generalizada é medíocre.
Leio, diariamente, no mural de pessoas que se divulgam por uma suposta inteligência, todos os tipos de discursos de execração, reclamam do desconto que taxistas possuem para trocar sua ferramenta de trabalho, reclamam do perfume que usam, reclamam da forma como falam, reclamam por puxarem conversa, rebaixam a pessoa e não só o profissional. Um horror.
Fosse por qualquer falha em seu sistema de trabalho, eu jamais me omitiria diante da campanha amoral que fazem contra indivíduos que enfrentam a aridez, os perigos e as armadilhas do asfalto imprevisível. Quem os ataca os táxis, não propõe diálogo, não busca entendimento ou sugestões que corrijam falhas evidentes. Quem denigre os amarelinhos não aceita que o serviço se restrinja a uma relação comercial, reivindicam um servilismo descarado. Querem apenas se vingar e nem sabem de quê. É um discurso de revanche, que só fere os melhores taxistas, gera mágoa, pois quem age por desvio de caráter não pode ter o status de representar a classe. Falar da exceção como sendo a regra é uma injustiça abissal.
Há meses venho resistindo a esse ódio condenável, mas é difícil combater o ódio quando ele ultrapassa o simplismo das polarizações políticas. O ódio contra gente, o ódio contra classe, é muito mais avassalador e danoso do que o ódio político.
Hoje, devido a criminosa e beligerante onde que criaram contra os táxis, cada novo passageiro transportado pode ser um feroz inimigo à espreita no banco de trás, um algoz camuflado. Neste dia do jornalista, reafirmo que estou com vocês, na mesma dor, na mesma batalha diária, na mesma frustração, tristeza e ressentimento. Apesar do clichê, só duas forças são capazes de combater criaturas irracionais: a inteligência e o perdão.
(Por Alexandre Coslei)
Desde o ano passado, venho acompanhando o drama que assola os dias e noites dos taxistas. Muitos passaram a viver sob estresse e pressão emocional ao abrirem os jornais, ouvirem o rádio ou ligarem a TV. Na verdade, a inquietação veio não veio somente pela concorrência desleal e predatória do Uber, mas a angústia dos motoristas é consequência do ódio irracional que passou a ser dirigido contra eles através de colunas, publicações na imprensa e comentários públicos. Quem observa o linchamento sem trégua, imagina que a humanidade encontrou a encarnação do demônio na Terra. Quem promove a onda de humilhação e preconceito não faz distinção entre bons e maus, quer impor o extermínio de toda a classe, a substituição do que já existe por uma mazela tecnológica que não demonstrou realmente o que pretende, mas pela indiferença com que trata as leis não deveria inspirar nenhuma confiança na sociedade. Já li frases do tipo “taxistas que morram de fome”, “bandidos”, “máfia”, “trogloditas”, “sujos”, etc. Nenhum dos detratores leva em conta os abnegados profissionais que também integram a categoria; não pensam que entre eles existem pais de família, viúvas, muitas pessoas honestas e solidárias. Não, não consideram nada disso. Por que considerariam? Os fundamentos do ódio não exigem racionalidade. Quem difama e afronta os taxistas não quer ter nenhuma boa história para contar. Quando conhecem alguma boa história, não a divulgam. Preferem expor as experiências ruins, reais ou não.
A lista exposta das situações negativas desses passageiros em fúria é repetitiva, o que causa imediata desconfiança sobre a veracidade. É como se desfiassem de propósito um roteiro de histórias ruins, apimentadas pelo componente histriônico que potencializa a maldade. São sempre as mesmas narrativas com poucas variantes, falam sobre taxistas que escutam rádio evangélicas, taxistas que não quiseram levar aqui ou acolá, taxistas de carro sujo, taxistas de carro velho. Muitas vezes parece que todos pegam o mesmo táxi, dirigido pelo mesmo taxista. Por isso, é óbvio que a campanha se baseia em motes mentirosos, que ganham exageros para contaminar a opinião pública e favorecer ao concorrente desconhecido. Usam casos e noticiários seletivos, que mostram só um lado.
No entanto, quando conversamos com pessoas sensatas, que não compartilham das extravagâncias e da discriminação claramente manifestada pelos furibundos, passamos a descobrir as boas histórias, nos é revelada a existência de profissionais dedicados, pessoas que fazem do trabalho árduo no trânsito uma experiência positiva de interação social. A sinceridade de quem escolhe contar sobre os bons taxistas emociona e prova como a injúria generalizada é medíocre.
Leio, diariamente, no mural de pessoas que se divulgam por uma suposta inteligência, todos os tipos de discursos de execração, reclamam do desconto que taxistas possuem para trocar sua ferramenta de trabalho, reclamam do perfume que usam, reclamam da forma como falam, reclamam por puxarem conversa, rebaixam a pessoa e não só o profissional. Um horror.
Fosse por qualquer falha em seu sistema de trabalho, eu jamais me omitiria diante da campanha amoral que fazem contra indivíduos que enfrentam a aridez, os perigos e as armadilhas do asfalto imprevisível. Quem os ataca os táxis, não propõe diálogo, não busca entendimento ou sugestões que corrijam falhas evidentes. Quem denigre os amarelinhos não aceita que o serviço se restrinja a uma relação comercial, reivindicam um servilismo descarado. Querem apenas se vingar e nem sabem de quê. É um discurso de revanche, que só fere os melhores taxistas, gera mágoa, pois quem age por desvio de caráter não pode ter o status de representar a classe. Falar da exceção como sendo a regra é uma injustiça abissal.
Há meses venho resistindo a esse ódio condenável, mas é difícil combater o ódio quando ele ultrapassa o simplismo das polarizações políticas. O ódio contra gente, o ódio contra classe, é muito mais avassalador e danoso do que o ódio político.
Hoje, devido a criminosa e beligerante onde que criaram contra os táxis, cada novo passageiro transportado pode ser um feroz inimigo à espreita no banco de trás, um algoz camuflado. Neste dia do jornalista, reafirmo que estou com vocês, na mesma dor, na mesma batalha diária, na mesma frustração, tristeza e ressentimento. Apesar do clichê, só duas forças são capazes de combater criaturas irracionais: a inteligência e o perdão.