​SOPA DE TOMATES

     Vivemos dias atribulados. Estamos atravessando um abismo por uma ponte de cordas sensíveis e desgastadas, que vez por outra, da a impressão que vai desabar. Legiões de homens e mulheres desnorteados, em todos os cantos do mundo, procuram explicações para os sofrimentos que desafiam a lógica, o bom senso, a justiça e a fé.
            Existem explicações?
           Por mais prodigiosa que fosse a nossa capacidade de análise; por mais que tentássemos buscar explicações na história, na sociologia, na economia ou nos astros, muito pouco seriamos capazes de explicar, sem que nos adentrássemos para o campo das especulações filosóficas. Certamente não conseguiríamos explicar as razões que levam um governante a massacrar indiscriminadamente seu povo, ai incluídos crianças, mulheres e idosos. Não conseguiríamos explicar as razões dos terroristas que aliciam jovens desiludidos, para se tornarem bombas humanas, com a vaga promessa de que terão um recompensa nos céus. Não conseguiríamos explicar as desilusões que forjaram a alma destes meninos e destas meninas, aparentemente normais, a se imolarem em tão desesperada travessia. Não conseguiríamos explicar o tamanho da ganancia dos "donos do mundo", que se regozijam em destruiu empresas e países nos quatro cantos do planeta, sem se importarem com a miséria que espalham. Não conseguiríamos explicar como se pode usar o nome de Deus, para pedir a um pai de família desesperado, por não conseguir alimentar os filhos, que venda sua casa e a dê como oferenda para a igreja.
           Poderíamos elencar aqui uma infinidade de outras situações que fogem da lógica, do bom senso, da justiça e da fé.
           Num mundo dominado pelo "Carpe Diem", perdemos a noção do tempo e da espera. Tudo é para hoje. Tem que se agora.
     No mundo globalizado de hoje, onde não há limites, a racionalidade é coisa morta, e em sendo assim, somos levados ao desespero por não ser, ou não ter, tudo agora. A citação do poema de Horácio (65 a.C. -8 a.C.)no Livro I de “Odes”) tão absurdamente explorado, nos choca, diante do dilema inexorável que vivenciamos.
           Estamos no limiar. O que  virá, é imossível descrever.
           Uma certa velhinha passava pela porta de uma loja, quando viu um jovem na beira da calçada chorando. Aproximou-se e perguntou: porque choras? Respondeu o menino: não tenho um tênis da moda e por isso os meninos fazem chacota de mim,  dizem que não posso fazer parte do grupo deles. Mandaram que eu roubasse um na loja, mas não posso fazer isso, minha mãe não me perdoaria.
            A velhinha pegou o menino pelo braço e o levou até sua casa. Na cozinha, ela o ensinou a assar tomates vermelhos, que depois eram descascados facilmente. Numa penela grande ela preparava uma SOPA DE TOMATES.
Agamenon Almeida
Poeta e Escritor
Galveston, Texas, USA, 03-03-2016
Agamenon Almeida
Enviado por Agamenon Almeida em 01/04/2016
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