Sílvio Santos, o ex-camelô e Lula o ex-presidente

Há um vídeo atual no Youtube no qual o ex-camelô, e quase ex-candidato à presidência da República, faz brincadeiras (o que é próprio da personalidade do apresentador de TV) acerca do gosto da elite e do gosto de Lula. E há um vídeo de cerca de vinte e cinco anos no qual ele fala de sua candidatura (http://efemeridesdoefemello.com/2014/03/06/silvio-santos-desiste-da-candidatura-a-presidente/ )

A esta altura, é compreensível que Sílvio Santos se encontre um tanto esquecido de sua história de vida. Eu não estou e, pelo menos, quanto aos detalhes mencionados neste texto. Aliás, o rico empresário foi constrangido em muitas circunstâncias e por alguns motivos, justo pela mesma elite que hoje o aceita, mas que, por outro lado, vai continuar dizendo que ele era camelô.

Como se tem observado, o conceito atual de elite é difuso. Por exemplo, se um jovem favelado sai da miserabilidade pelas vias do futebol ou do funk ostentação, ex-ricos logo desse jovem se aproximam e se esquecem de quaisquer restrições antes consideradas. Posam para fotos e selfies, nos ambientes caros ou no iate que pertence ao funkeiro ou ao jogador de futebol. E com um objetivo bem definido: aparecer. Aparecer jamais foi uma meta para os da elite com selo de garantia. Não se sabe bem de onde surgiu o selo, mas fato é que ele existe. De sua vez, o dinheiro do mundo todo jamais comprará um selo para o funkeiro, nem para o jogador de futebol. Uma vez que tal não costuma acontecer, por conta própria, muitos novos ricos passam à condição de reis, seja lá do que for. Rei é o que não falta. Inclusive o Brasil e a Argentina ainda teimam sobre quem é o rei do futebol, se Pelé ou Maradona.

Aquele pessoal que até hoje é conhecido como elite, mesmo não tendo um tostão nos bolsos, continua certo de sua nobreza e sangue azul. Entretanto, abre um espaço para curtire do bom e do melhor que só dinheiro de famosos do funk e do futebol pode comprar. Na verdade essas duas bandas de laranjas diferentes entram em um acordo silencioso no qual uma parte tem o dinheiro e a outra pensa que tem o glamour. Os que têm o dinheiro acreditam e pagam. Sei que nessas andanças que o mundo dá, princesas casam com plebeus e o meio do campo ficou todo embolado. Aliás, conforme alguns dizem em pesquisas, tivemos um imperador que andou com todas as mocinhas das senzalas. E daí? Quem pode pode e quem não pode fica olhando e babando com beijinho no ombro. Enfim, nós, as mulheres é que colocamos ordem no galinheiro.

Ainda cumpre relatar que essas criaturas especialíssimas das famosas zelites ficam bem na delas, pois historiadores de meia tigela não faltam para a perpetuação de um discurso laudatório no qual se encarregam de dizer que fulanos e beltranos são os herdeiros culturais dos engenhos de fogo morto e dos bagaços da cana de açúcar. Foram décadas de fausto e de glória a Deus nas alturas e aos donos de engenhos nas baixuras. Acerca do imperador mulherengo, ai de quem falar mal!

Por outro lado, aqueles contadores das histórias alheias dirão que os plebeus são flores do lodo, cabaças da seca, filhotes de Lampião, de origem humilde, filho de lavadeira e de pai desconhecido, retirante, analfabeto, flanelinha, menino de rua e mais e mais.

Sendo assim, Sílvio Santos e Lula podem ter todo o dinheiro do planeta, continuarão sendo cobrados de suas obscuras origens. Lula está se lixando para isto. Esses dois, nas bocas das zelites continuarão sendo entendidos como cães sem pedigree, cavalos de raça questionável, quer disponham da grana ou não.

Falta agora avisar àquela moça simpática, a filha de Sílvio Santos, que teria acompanhado o pai na brincadeira de mau gosto e atirado nos próprios pés, que os da zelite, quando contrariados, lhe passarão em rosto a condição de filha de um ex-camelô.