Por uma “Cidade Jardim”
Há tempos não passava em Brumadinho (MG) após minha saída da Faculdade ASA. Tenho saudades de tudo por lá. Até do lugar antigo no qual a faculdade se ergueu. Bons tempos! Mas o que me deixou bastante impressionado - não com a ASA -, mas com a cidade é a quantidade de carros e, por ressonância, da dificuldade de estacioná-los.
Há pouco mais de seis ou sete anos dificilmente veríamos naquela região da cidade tantos lugares ocupados por veículos, inclusive desrespeitando placas de estacionamento, lugares reservados para idosos ou para a passagem de pedestres. A pacata cidade nem parece ser de pessoas, em sua maioria conhecidas umas das outras, ela hoje é composta por veículos que se agarram nas ruas ditas “principais”, em uma rotatória sem vergonha em torno de uma rodoviária feia e diante de prédios públicos que recebem diariamente muitas pessoas.
Talvez o leitor não concorde, mas com certeza deve gostar de carros e achar muito bom permanecer 50 minutos esperando em “engarrafamentos” que eram inexistentes anos atrás. Digo isso porque é muito interessante uma cidade de pequeno porte, com uma força econômica sem igual, se render ao velho e bom fetiche da mercadoria. Em cidades interioranas antigamente era comum sair de casa e preservar o andar leve e tranquilo em calçadas até o trabalho, a escola ou ao lazer. Mas a população tanto de Brumadinho como de outras cidades até de menos força econômica como Mario Campos definitivamente desistiu de andar; o veículo realmente deve mostrar o que de mais (ou de menos) ele tem.
A questão pode parecer ingênua, mas ao andar com seu veículo por alguns quarteirões penso que o motorista, não só na cidade que era antes mais esverdeada devido às árvores ou em cidades que parecem de uma rua só, não está somente exercendo o seu direito de ir e vir. Na verdade, os bípedes humanos querem mostrar, querem ostentar, disputar espaços, passar por cima, evidenciar “classe” ou impor certa autoridade simbólica. O veículo mata o pedestre, destrói a bicicleta, impossibilita relações face a face, arrebenta o coração (a famosa taquicardia), amolece o corpo e estressa o motorista.
Portanto, nestas breves linhas gostaria somente de deixar minha nostalgia falar mais alto. Lembro-me de uma cidade onde uma ponte tinha um sinal e passava um veículo de cada vez e muitos e muitos transeuntes. Lembro-me da rodoviária mais limpa e cheirosa, sem rabiscos e cheiro de urina por todo o lado. Lembro-me do asilo, da praça, de escolas, do hospital, das igrejas, da câmara municipal aonde íamos a pé, sem titubear em relação à distância e sabendo que valia à pena por que “era logo ali”.
As coisas estão mudando rapidamente: é o progresso diria alguns. Acho que não. Trata-se de um retrocesso sem tamanho onde falta uma administração pública e competente que cuide realmente do que se entende por cidade. Não adianta emplacar mais carros e receber mais impostos com mais pessoas em hospitais. Para Brumadinho ainda há tempo, que os governantes pensem em uma “Cidade Jardim”, uma “Cidade Verde”, uma “Cidade de crianças”, com muitas árvores, plantas, flores e frutas. Uma cidade feliz e alegre, sem os constrangimentos de uma Belo Horizonte, Betim ou Contagem. A qualidade de vida não está em quatro rodas. Ela está mais perto de quatro cinco ou seis quarteirões e é possível chegar a pé. E acreditem, é “logo ali”.