8 de Março é dia de luta!

Coloquei o título acima, tradicionalmente usado pelo movimento sindical, por entender importante sempre salientar que duas efemérides anuais de nosso calendário, o 1º de Maio (Dia do Trabalhador) e o 8 de Março (Dia Internacional da Mulher), possuem origem nas lutas operárias do final do século XIX e início século passado. Logo, essas datas estão aí para lembrar que os direitos que trabalhadores e trabalhadoras usufruem hoje não vieram do nada e, tampouco, são “naturais”: foram, isto sim, conquistados com a luta social e política, à custa de muitos sacrifícios e, até mesmo, vidas. Literalmente.

Para ilustrar isso, podemos aproveitar o recentemente lançado filme As Sufragistas (Sarah Gavron, Inglaterra, 2015, 107min), que retrata a militância pelo direito de voto das mulheres inglesas. Elas, depois de muita luta, alcançaram esse objetivo, parcialmente, em 1918. No Brasil, também parcialmente, as mulheres puderam votar a partir de 1932. O primeiro país no mundo onde as mulheres tiverem a possibilidade de votar foi na Nova Zelândia, em 1893.

Assim, se pensarmos somente em termos de Brasil, as mulheres passaram a ter direitos políticos plenos apenas há 84 anos, completados dia 24 de fevereiro, data em que o Decreto nº. 21.076 foi assinado pelo presidente Getúlio Vargas. Daí até a eleição da primeira mulher a ocupar a Presidência da República, Dilma Rousseff, foram 78 anos. No Rio Grande do Sul foram 74 anos, pois em 2006 Yeda Crusius foi eleita a primeira governadora do Estado.

Para ficarmos na atuação das mulheres na atividade política, que, nas democracias liberais, é diretamente determinada pela conquista do direito de votar, constatamos que em 2015 10% dos países eram chefiados por mulheres. Além da presidenta (ou presidente, como queiram) Dilma Rousseff, podemos destacar, na América do Sul, a chilena Michelle Bachelet e a argentina Cristina Kirchner. Na Europa, dentre outras, a chanceler alemã Ângela Merkel, a primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt e a presidente da Croácia Kolinda Grabar-Kitarovic. Essas duas últimas, “curiosamente”, ficaram famosas nas redes sociais mais pelos seus atributos físicos do que políticos (*). Jamaica, Trinidad e Tobago, Libéria, República Centro-Africana, Noruega, Escócia, Malta, Polônia, Kosovo, Lituânia, Letônia, Bangladesh e Coréia do Sul igualmente eram países comandados por mulheres até ao ano passado. Os EUA, se a democrata Hillary Clinton vencer as prévias presidenciais de seu partido, poderão ter sua primeira mulher chefe de governo.

Todavia, a luta continua! Essa frase, outro lugar-comum político e sindical, não deixa também de encerrar uma verdade, assim como é verdade que o sol, no Brasil, nasce no leste e se põe no oeste, todo dia. As mulheres estão, aos poucos, chegando ao poder máximo em seus países, estados e cidades e, de fato, conquistando a cidadania plena que é embasada nas históricas conquistas de direitos civis, sociais e políticos.

Assim, no dia 8 de Março valem ainda as palavras de Rita Lee na canção Cor de Rosa Choque: “Sexo frágil / Não foge à luta/ E nem só de cama / Vive a mulher (...) Gata borralheira / Você é princesa / Dondoca é uma espécie / Em extinção”.

(*) – Helle Thorning-Schmidt virou celebridade internacional num evento onde estava sentada ao lado do presidente estadunidense Barack Obama e do primeiro-ministro inglês David Cameron, tirando uma “selfie” com estes e supostamente despertando ciúmes em Michelle Obama; Kolinda Grabar-Kitarovic é sucesso nas redes sociais da internet com uma foto sua (falsa: a imagem é da atriz norte-americana Nicole Coco Austin) de biquíni, geralmente comparando-a com a presidente Dilma, em detrimento desta. Sintomático: o pensamento machista presente na sociedade sempre arruma um jeito de diminuir as mulheres, mesmo onde elas conseguem claro destaque.

Texto publicado na seção de Opinião, versões online e impressa, do Jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenotícias.com.br