Diuturnamente escrevendo a história
Um dia você acordou. Noutro, dormiu. Mas num e noutro você estava lá, escrevendo sua história de vida. Hoje, não dormindo, mas acordado colhes as alegrias deste dia, plantadas em cada manhã e cultivada sempre com o dia seguinte.
Parabéns pela conquista de hoje, desta semana, deste mês, deste semestre, deste ano, em fim, de sua vida. Mas, saibas tu, de permeio entra as vicissitudes inigualáveis de suas ações idealistas. Se possível fosse, as alegrias seriam multiplicadas a um número quase infinito tocando à escuridão da dor. Então saberia que o verdadeiro sentido de viver, antes para vibrar com os edificantes consolos mundaneizados, seria, oh desejo de meu coração! Para abraçar as tramas da incompreensão que aflige o vazio humano.
O viver deitava-se nesta realidade: sarar o indiviso, já dividido, coração. Este coração encapado na contramão das mais diversificadas situações humanas, ainda consegue encontrar disponibilidade para palpitar o seu limite existencial enquanto proclama a si mesmo como extenuante meio de sobrevivência para este contra senso que se chama humano.
Assim sem se isentar do que lhe exige a existência, o ser humano se desprende de suas utopias e estaciona na sua "divina comédia" cotidiana conseguindo, alegremente, mistificar-se contemplando o alçando desafio de viver, sobretudo.
"Julgam-me" _ disse o ser indigente_, "insossos do viver, porque eu vivo". Na verdade, muitas vezes para poder viver se tem que afastar da vida, sem se desprender dela. Desvencilhar, antes de suas exceções de desânimos, às suas próprias seguranças fugazes que tiram o fascínio do encantamento pela vida mesma.
Padre Joacir ďAbadia, Filósofo autor de 8 livros e Especialista em Docência do Ensino Superior.