Vergonha de ser branco
Sou descendente de espanhóis, portugueses e italianos e isso me causa grande desconforto. Justamente por estar ciente de que existem na história destes meus ancestrais europeus manchas gigantescas da degradação humana, tais como o fascismo, a dominação romana, a invasão de territórios americanos e consequente dizimação de povos nativos, além da destruição das culturas destes.
E não ajuda muito lembrar que no passado, não tão recente, mas não tão distante - há cerca de cento e cinquenta anos - meus bisavós estavam entre as famílias desesperadas de fome fugindo de seu país de origem, atendendo a um desejo racista da era Vargas: de que europeus, mesmo que extremamente pobres, e muitos deles analfabetos, emigrassem para ajudar a clarear a cor da pele dos habitantes deste país. Vieram, fizeram realizar-se tal vontade e também eles trouxeram na bagagem o preconceito contra outras raças, que se traduziram em comportamento que observo e histórias que ouço até hoje de meus familiares e das famílias de conhecidos. Eles não sentem qualquer remorso ao falar mal de negros e de indígenas.
É na objeção a programas sociais como o bolsa-família, à atuação de organizações como o Movimento dos Sem-Terra e posição contrária a protestos para que sejam observados os direitos de minorias, como os indígenas, que tal preconceito sobrevive.
Por estas razões, declaro minha vergonha de ser branco.