Vergonha de ser branco

Sou descendente de espanhóis, portugueses e italianos e isso me causa grande desconforto. Justamente por estar ciente de que existem na história destes meus ancestrais europeus manchas gigantescas da degradação humana, tais como o fascismo, a dominação romana, a invasão de territórios americanos e consequente dizimação de povos nativos, além da destruição das culturas destes.

E não ajuda muito lembrar que no passado, não tão recente, mas não tão distante - há cerca de cento e cinquenta anos - meus bisavós estavam entre as famílias desesperadas de fome fugindo de seu país de origem, atendendo a um desejo racista da era Vargas: de que europeus, mesmo que extremamente pobres, e muitos deles analfabetos, emigrassem para ajudar a clarear a cor da pele dos habitantes deste país. Vieram, fizeram realizar-se tal vontade e também eles trouxeram na bagagem o preconceito contra outras raças, que se traduziram em comportamento que observo e histórias que ouço até hoje de meus familiares e das famílias de conhecidos. Eles não sentem qualquer remorso ao falar mal de negros e de indígenas.

É na objeção a programas sociais como o bolsa-família, à atuação de organizações como o Movimento dos Sem-Terra e posição contrária a protestos para que sejam observados os direitos de minorias, como os indígenas, que tal preconceito sobrevive.

Por estas razões, declaro minha vergonha de ser branco.

José Antônio Dias
Enviado por José Antônio Dias em 21/02/2016
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