Paliativos
O processo assistencialista não pode ser apenas superficial. Para ser exitoso, precisa ser total, no sentido de possibilitar às pessoas condições de uma vida mais digna. Nesse sentido, programas como o Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida podem ajudar um pouco, mas ficam aquém de uma solução mais abrangente.
O Bolsa Família representa um recurso que muitos não tinham, é fato, mas significa pouco. Se essas pessoas continuam sem saneamento básico, com escolas que só funcionam se o tráfico permitir, postos de saúde ou UPA's sem médicos ou aparelhamento adequado e, principalmente, sem exemplos em que as crianças ou adolescentes de áreas carentes possam se mirar para a observação de valores a que não tiveram a chance de serem apresentados, muitas vezes mesmo em casa.
O fato de algumas (ou muitas) unidades do Minha Casa, Minha Vida serem invadidas e ficarem sob o jugo da milícia, após a expulsão dos seus legítimos possuidores, sem reações expressivas do Estado, também inviabiliza o programa.
Em última análise, é como se aumentássemos significativamente os professores, que sempre ganharam mal, sendo mantida a mesma estrutura de ensino ou, em muitos casos, a má formação dos professores. Não representaria necessariamente a melhoria dos índices de aprendizagem. Ou se os médicos e profissionais da saúde passassem a ganhar mais, sendo mantidos os hospitais e postos de saúde sem remédios ou sem o aparelhamento necessário, pelo menos, ao atendimento emergencial. Ou ainda, se majorássemos os salários dos policiais, categoria também mal remunerada, sem o estabelecimento de punições sumárias e irrecorríveis para os casos comprovados de corrupção ou conivência com o crime.
Os resultados seriam praticamente os mesmos.
Rio, 17/02/2016