O amor, e o "churrasco de arroz"

“A fila andou meu bem”; “Comigo é assim, me ame ou me deixe.” Tenho deparado com essas frases e similares sobre a intrepidez de quem “perdeu um amor” e presto, partiu pra outro.

Admiráveis artistas que conseguem com tanta maestria fazer uma miniatura do “Grand Cânion”! Digo; pessoas superiores essas que, logram resolver num instante, dramas tão fundos como amar sem ser correspondido.

Ora, se a “fila anda” devo entender que amar é “pegar” quem estiver na frente; entretanto, o amor vero não se rende a sistemas, organizações; faz suas próprias regras; pode ser disfarçado tatuando-se sobre ele outro desenho, jamais removido de onde se impregnou.

Quem precisa bater no peito sobre sua independência, sua facilidade de esquecer, das duas uma: Ou, nunca amou deveras, ou tenta disfarçar o mal que o aflige com a fumaça da negação. Pois, a bravata “me ame ou me deixe” tem mais a ver com consumo de comichões que, com amor; uma nova versão do “dá ou desce”.

A insegurança é uma das primeiras coisas que assoma quando alguém começa a amar. Diferente de Deus que, por seguro de Seu Ser, coloca o “melhor vinho” por último, nós, inseguros, colocamos só nosso melhor diante de quem amamos; as melhores vestes, as melhores palavras, a melhor impressão possível tentamos deixar; enfim, nos tornamos reféns de um sentimento cujo resgate só pode ser pago por outro que, sequer tem qualquer compromisso conosco, de modo que, a insegurança resulta inevitável.

Claro que nem todos os amores são correspondidos! Há muitos desencontros nessa arena. Resta a resignação, mexer o menos possível na ferida para não doer e deixar que o tempo, com seus longos cabelos brancos nos ensine certa anestesia que torna a vida suportável. A doença cura; mas, é processo longo, dorido, intenso...

Essa solução simplista tipo a do Lula, “se, não pode comprar carne que coma arroz”, tende a resolver carências sexuais, simplesmente; aí qualquer arroz dá “churrasco”.

Mas, o amor é uma brasa que pode resistir muito sob as cinzas do desengano; e ao sopro de uma tênue brisa de esperança reacende, ou, redescobre que seguia acesa.

Amor vero é indulgente, não vingativo; esse, é o amor próprio. Aquele, perdoa, pois, além do perdão suprir, eventuais lapsos de quem ama, sua correspondência supre outros maiores nos próprios anseios.

Em suma, um artista hábil poderá pintar um olho perfeito; tanto que pareça de verdade; mas, ainda assim, será incapaz de piscar, chorar, ver ... Tal “Perfeição” é simulacro, imitação, não algo vivo; assim são esses “amores” velozes que trocam um por mês sem dores maiores, ou outras consequências; as imitações podem ser muito boas, mas são mortas.

“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão, amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?” (Fernando Pessoa)