Sobre a amizade
“Há amigos que andaram conosco na escola, jogaram conosco à bola, estiveram ao nosso lado em inolvidáveis vitórias e sofreram derrotas, como todos nós, que gostaríamos de esquecer. Há amigos que começaram a fazer parte da nossa vida anos mais tarde, já no velho liceu ou nos bancos da universidade: partilharam a mesma mesa de café, entraram em discussões infindáveis e criaram uma tertúlia comum, comentando os mesmos jornais e revistas ou lendo autores e livros que ainda hoje relemos com um misto de reverência e de saudade. Há amigos que encontrámos no emprego, como se estivessem desde há muito à nossa espera, desejosos de conversar sobre os problemas do dia-a-dia, sobre as questões de trabalho, sobre os assuntos correntes e, mais ainda, sobre os assuntos contracorrente, aqueles de que ninguém mais fala e, para nós, falam mais fundo. Há, finalmente, aqueles amigos com quem nunca falámos pessoalmente ou até nunca vimos fisicamente ou, embora pareça impossível, nem sequer temos deles uma imagem definida e precisa. E, no entanto, são amigos verdadeiros, estão sempre disponíveis e nunca nos abandonam, a qualquer hora do dia ou da noite. Conversam conosco muitas vezes, em conversas prolongadas e atentas, sem berros nem alaridos, num murmúrio agradável, quase em silêncio, mas sempre alegres, amigas, familiares e fraternais.”